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PV = nRT

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CassioZanata

PV = nRT

Quando vejo 38 torcedores fanáticos de um time de futebol brigando com 23 torcedores do time rival, armados de paus com pregos, bombas, pisando cabeças e esmurrando velhos e crianças, respiro fundo e procuro me concentrar no fato de que PV = nRT.

Quando leio casos de pessoas que desviam verbas de hospitais públicos, deixando gente pobre na fila, sem atendimento, jogada pelos corredores, sem o minimozinho de respeito, eu tento me acalmar na certeza de que PV = nRT.

Toda vez que me deparo com gente arrogante, prepotente, querendo impor uma bobagem qualquer, só para que sua vontade prevaleça, balanço a cabeça e tudo o que vem à mente nesse desprezível esforço físico é essa maravilha da Física.

Abro o jornal e vejo que a situação na Faixa de Gaza degringolou de vez. Calma. Mantenha o pânico. Afinal, PV = bem, você entendeu. Ou não.
Da fórmula lembro-me vagamente de que talvez P seja Pressão, V seja Volume e T deva ser Temperatura. Já o n e o R complicam um pouco as coisas. Por que mesmo esse n em minúscula e o resto em maiúscula?

Vai entender porque a gente guarda essas coisas. Em que lugar ficam escondidas, sorrateiras. E que motivos misteriosos as fazem ressurgir assim do nada, prontas, inteiras, ainda que indecifráveis?

Há que se desprezar a resistência do ar e do atrito. E a resistência que beirava o desprezo da menina tão linda, V, n, R, tudo facinho da gente entender? Mais tarde, novas letras entraram na fórmula, B e outras maiúsculas imensas, o T virou o Tempo que passa sem solução, nos deixando só mais cheios de dúvidas.

Mas pasmem: do n agora me lembro pouco melhor, significava o número de moles – nós, meninos, achávamos graça no sotaque da professora de Física, uma portuguesa que dizia algo como “mólsh”. Nossas risadas a deixavam furiosa, sua paciência se volatizava e ela praguejava que quem não falava o português direito éramos nós, os brazucas.

Hoje acho que ela tinha razão em seu argumento. E nós, em rir. O fato é que os anos passam, muita coisa fica pelo caminho, a gente leva uns belos sopapos da arquibancada da vida mas nem tudo está perdido: ao que parece, PV continua sendo igual a nRT.

O que explica muita coisa, menos as brigas das torcidas, o desvio de dinheiro dos pobres, a insistência dos motoboys em buzinarem em túneis e tudo o mais.

Enfim. O entendimento das coisas é volátil feito um gás nobre. O que pode não ser uma frase incrível – e de fato, não é – mas não achei outra melhor para terminar esse texto complicado, misterioso e de utilidade discutível na vida do cidadão como essas benditas fórmulas.

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Cássio Zanatta é natural de São José do Rio Pardo, o que explica muita coisa. Escreve crônicas há um bom tempo – convenhamos, já estava na hora de aprender. © 2014.

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