Precisa de alguém para ir ao cinema? Desesperado para conhecer um novo restaurante, mas não quer ir sozinho? Quer jogar conversa fora, mas não tem ninguém?
Boa notícia! Há alguém que gostaria de fazer todas essas coisas com você por um preço.
Nos últimos anos, os serviços on-line de “amigo de aluguel” têm crescido em popularidade, oferecendo aos usuários a chance de pagar – não sexualmente – pelo companheirismo. Os “amigos” determinam suas taxas, seja por atividades específicas ou por um determinado tempo, e os usuários têm a oportunidade de escolher a pessoa (ou a faixa de preço) mais adequada às suas necessidades.
RentAFriend, o mais popular desses sites, afirma ter muito mais de 500 mil amigos disponíveis em todo o mundo para tudo, de visitas a museus até companhia para praticar esportes radicais. Mas para entrar em contato com eles, os usuários precisam desembolsar uma taxa de adesão 24,95 dólares por mês.
Helen White, uma amiga de Boston, diz que recebe 20 dólares por hora apenas para fazer companhia. “Fomos a um concerto juntos”, diz ela contando sobre um passeio. “Contando tudo eu ganhei 60 dólares, além das bebidas que ele pagou. Na verdade, foi muito natural, não havia qualquer constrangimento, como se poderia esperar. Tivemos uma grande conversa”.
David Bakke, um amigo de Atlanta, teve experiências semelhantes. “A primeira vez que eu tive um jantar com uma mulher que estava na cidade a negócios, e no segundo eu fui a um jogo de basquete com um cara cujo amigo havia cancelado com ele há poucas horas”. “Ambas as vezes, Bakke, um escritor freelance, não quis receber a taxa desde que os clientes pagassem pelo entretenimento da noite.
Mas nem todos os usuários têm tais experiências positivas. Mikey Rox, proprietário da empresa Paper Rox Scissors, em Nova York, se inscreveu no RentAFriend, e diz que “nunca aceitou um pedido, por uma razão”.
Rox, 32 anos, diz que ficaria feliz de fazer companhia para alguém para passear, mas muitas das ofertas que recebeu foram de senhores gays significativamente mais velhos – Rox é gay – o fizeram ignorar algumas solicitações: “sempre senti que eles tinham segundas intenções, e eu tinha medo de que, até o final da noite, eles agissem como se fosse a hora de “começar a fazer o dinheiro valer a pena”.
Embora o site seja muito claro sobre a sua política de tolerância zero para os pedidos não platônicos, a experiência de Rox não é incomum.
Helen também recusou um candidato a amigo, pois “sentiu que ele estava basicamente querendo sexo”, por isso ela usa um pseudônimo em seu perfil (e neste artigo), a fim de proteger sua privacidade.
Embora seja impossível rastrear o número exato de mensagens “suspeitas” enviadas através do site. É provável que muitos usuários, como Rox, simplesmente as ignore. O grande número de advertências contra os pedidos não platônicos mostra que elas são um problema frequente para o site.
Além das preocupações potenciais de segurança, alguns profissionais de saúde mental questionam a premissa do site: a ideia de que a amizade seja algo que possa ser comprado.
A Dr.Carole Lieberman, uma psiquiatra de Beverly Hills, diz que a própria existência do RentAFriend é “uma condição muito triste sobre o estado das relações humanas”.
“A verdadeira amizade vem de experiências e valores compartilhados, e em amizades reais, os amigos são imparciais”, diz Lieberman. “Alugar a amizade é, em sua própria natureza, algo não confiável, desigual e temporário. Uma vez que você pare de pagar, a pessoa não vai mais estar com você, que é a antítese da amizade”.
“As pessoas estão cada vez mais afastadas uma das outras”, comenta a psiquiatra. “Elas saem juntos apenas para passar a noite grudadas ao celular. Se eu tivesse um paciente, considerando isso, eu ia trabalhar para descobrir em primeiro lugar o que está impedindo que ele conheça pessoas organicamente, e trabalharia soluções para esse problema”.
Dadas as potenciais armadilhas de alguns desses serviços, as pessoas solitárias podem preferir o original rent-a-friend: Ben Hollis .
Em 1986, Hollis divulgou um vídeo intitulado “Rent-A-Friend”, que permite que os espectadores “interajam” com Sam, que fala sobre tudo, inclusive sobre as suas paixões no ensino médio, parando com frequência, a fim de “ouvir” as respostas dos espectadores.
O vídeo tem apenas 42 minutos de duração, e depois de algumas visualizações, Sam pode parecer um pouco previsível, assim como uma conversa com alguém que você não conhece ou que tenha alugado.
© 2014, Newsweek.