
Quem nasceu primeiro: a mídia ou a massa
Vemos muitos exemplos de falta de ética e de qualidade na mídia. Um dos assuntos mais discutidos é a quantidade de programas de TV banais, matérias vendidas, publicidades manipuladoras, entre tantas outras coisas do gênero.
E você, concorda com a visão de que a mídia massacra a inteligência e aliena as pessoas? A mídia seria o grande monstro que criamos para nos destruir? Qual a nossa posição ante a esse poder?
A mídia realmente tem um grande poder de influência na vida das pessoas, é inegável. Também é fato que existem muitos profissionais e corporações que utilizam essa força, digamos, de uma forma errônea. Assim como existem profissionais anti-éticos na medicina, na engenharia e em todas as outras áreas. Mas, isso não significa que a mídia seja algo ruim. Ela é uma ferramenta e, como toda ferramenta, pode ser usada de diversas maneiras.
Se existe um grande poder de alienar, também existe um grande pode de difundir ideias e educar. Tudo depende de quem faz e de quem consome a mídia.
A evolução da tecnologia e da comunicação diminuiu a distância. Hoje, temos contato com pessoas de todos os cantos do mundo e informação surgindo de diversos lugares. Você pode escolher se quer ver, ler ou ouvir algo que banaliza sua inteligência ou ver, ler e ouvir diversas coisas que lhe fazem pensar além do horizonte, avaliando pontos de vista e conhecendo situações diferentes. Ou seja, ao mesmo tempo que há a possibilidade de se reduzir a uma informação massificada, quadrada e unilateral, também há a possibilidade de se questionar e buscas outras fontes para formar uma opinião.
É bem certo que tem muita coisa ruim e sem qualidade circulando por aí. Mas elas só foram feitas e circulam porque existe espaço, porque alguém consome esse tipo de coisa. É muito fácil criticar a mídia, dizer que nada presta. Difícil é mudar de canal.
As pessoas reclamam do Big Brother, mas ele só existe porque tem audiência, e muita! De quem é a culpa então? Das pessoas que ganham rios de dinheiro produzindo esse programa ou das pessoas que consomem e gastam pra receber o programa?
Já trabalhei em canal de TV cultural e sei o quão difícil é fazer as pessoas consumirem cultura. O que essas pessoas não enxergam é que quem dita as regras do conteúdo é a audiência. E quem faz a audiência mesmo?
Se um programa ou um conteúdo não tem audiência/público, não faz sucesso, ele automaticamente é retirado do ar porque “não vende”. Já um programa que tem picos de audiência/acesso, será mantido enquanto render verbas.
Sei que o problema tem um alcance bem maior e raízes sociais mais profundas. Também é lógico que a situação da massa não irá mudar da noite para o dia, se é que irá mudar.
O que proponho é que as pessoas podem ajudar a mudar essa situação. Se casa um, ao perceber que um caminho está errado, fizer sua parte, será um excelente começo para uma revolução na forma como a mídia é feita.
E se não funcionar? Se não funcionar para a massa, tudo bem. Ao menos você terá fugido da massificação e será uma pessoa diferente, que ao invés de apenas criticar a mídia, sai em busca de outros pontos de vista e contribui para que esses meios exerçam a finalidade para o qual foram criados: ser ferramenta.
Defendo que a mídia precisa de certos limites críticos, que a legislação de concessão deve ser revista, assim como o mercado, e que há muito o que mudar em quem faz e controla a mídia (no mundo!). Só que é aquela velha história: para mudarmos o mundo, é necessário começar mudando nós mesmos.. ou ao menos o canal.
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Claudia Giron Munck é Publicitária, Relações Públicas, especializada em Marketing e Mídias Digitais. Atua na área de Comunicação do Sesc SP e é Coordenadora Editorial da Revista Gente Nova.