
Se você juntar uma multidão formada apenas por pessoas do nível de Einstein, Gandhi, Miles Davis, Stephen Hawking, Pitágoras, Van Gogh, Isaac Newton, Shakespeare, Mandela, Da Vinci e Edgar Allan Poe, o Q.I. total não vai ser maior que o de uma centopéia. Por isso que eu não costumo acreditar em manifestações populares.
Interprete como manifestação popular qualquer tipo de ação que uma multidão é capaz de fazer quando está reunida: de passeatas a linchamentos. Aliás passeata, seja de direita ou de esquerda, costuma ser uma espécie de linchamento – do bom senso. E ser de esquerda ou de direita é como gostar de Bon Jovi. Depois dos 20 anos de idade, começa a pegar mal.
Em junho, tivemos protestos com vários setores da sociedade tomando as ruas e pedindo um país melhor. Mas como eram vários setores, não havia um objetivo em comum: para uns, um país melhor é mais comunista; para outros, mais consumista – e o resultado final ficou mais parecido mesmo é com a Família Tufão. Nada contra, mas se você sai para a rua com o time do Real Madrid, não espere defender os interesses do Barcelona. E vice-versa.
Confesso que ver toda aquela gente reunida sem saber bem pelo que protestava, mas em busca de um ideal, me provocou uma sensação única: a de vomitar meu pâncreas pela orelha.
Eu vivi a época das Diretas Já e dos Caras Pintadas. Em ambos os casos, o objetivo foi alcançado: o fim da ditadura e o fim dos presidentes que cheiravam pelo orifício errado. Mas ver patricinhas do Iguatemi indo para a rua de mãos dadas com barbudos do MST me faz pensar apenas uma coisa: tá cheio de corno nas mansões por aí.
Manifestantes costumam dizer que estão melhorando o país e que nada vai detê-los em sua luta. Sei lá, eu parei de acreditar em super-herói desde que o Superman foi parar numa cadeira de rodas. Mas tudo bem: se o protesto é pacífico, respeita a liberdade de ir e vir do cidadão e, principalmente, não aumenta o volume do meu saco, eu apóio.
Só que agora surgiu um elemento novo: a violência. Tem gente que justifica que um manifestante possa usar da violência, porque é violentado pela sociedade desde que nasceu. Pois então o Tiririca pode sair esfolando a cara das pessoas, porque ele já é feio desde que nasceu?
Piadas à parte, acho legítimo e importante para a democracia um povo protestar. Mas se não tomarmos cuidados, vamos sair para as ruas toda vez que tivermos uma unha encravada, vamos quebrar vitrines toda vez que brigarmos com nossos parceiros e vamos incendiar pneus toda vez que nossas mamadeiras esfriarem.
O que quero dizer é que um povo pode optar entre formar uma nação de realizadores ou de reinvindicadores. E parece que estamos fazendo a segunda escolha. Aliás, se o Steve Jobs fosse brasileiro, nunca teria criado a Apple. Ele teria ido para as ruas, reivindicando mais design e mais tecnologia.
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José Luiz Martins. Humorista, publicitário e roteirista. Sócio da empresa Pé da Letra, de criação e produção de conteúdo. © 2014.