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(Re) conheça Richard Linklater

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(Re) conheça Richard Linklater

É provável que você conheça a trilogia de filmes “Before” com Ethan Hawke e Julie Delpy: “Antes do Amanhecer” (1995), “Antes do pôr-do-sol” (2004) e “Antes da meia-noite” (2013), registrando duas décadas de uma história romântica iniciada num encontro ocasional em Viena. É muito provável que você não se lembre o nome do diretor: Richard Linklater, um dos mais talentosos e menos reconhecidos diretores de sua geração.

Até agora, Hollywood ainda via Linklater com desconfiança. Não é a toa. Porque no mesmo currículo onde constam filmes no estilo “sessão da tarde”, como “Newton Boys” ou “Escola do Rock”, cabem experimentalismos como “Waking Life”, uma animação existencialista e onírica sobre o real e as múltiplas derivações do universo (é, cabeça assim), ou “O Homem Duplo”, uma adaptação, também em animação, tão alucinante e descolada do real quanto a história de Phillip K. Dick em que é baseada.

Assim como estas duas animações, a trilogia “before” também são filmes de reflexão, disfarçadas em conversas banais e cotidianas- “um filme de conversa” como dizia um amigo meu – por mais “fofinho” que seja acompanhar a cada nove anos a história de um casal. E este é um dos talentos de Linklater, ser “filosófico” sem ser incompreensível pelo público. Aliás, se torna compreensível porque o diretor discute com profundidade, mas apoiado na linguagem pop.

Na prática, Richard Linklater está preocupado em fazer um raio-x da geração que cresceu nos anos 90, alternando entre abordagens mais profundas ou brincando como em “Jovens, loucos e rebeldes”, algo que já fazia em seu segundo filme “Slackers” ou em “Suburbia”. Para completar, ainda é um talentoso diretor de atores, capaz de extrair o que há de melhor não só em Ethan Hawke, seu favorito, mas de Jack Black ou Keanu Reeves.

Curiosamente, enquanto seu método de construção de roteiro é aberto e impreciso, na direção, não permite o improviso dos atores, ensaiando exaustivamente as cenas antes de filmá-las.

Estas qualidades se tornam mais impressionantes quando se sabe que Linklater não tem nenhuma formação profissional em cinema, não freqüentou nenhuma universidade do ramo. Ao contrário, abandonou a faculdade para trabalhar num campo de extração de petróleo (!) nos anos 80, de onde voltou para fundar um cineclube no Texas.

A nova proeza de Linklater estréia no fim de outubro no Brasil e chama-se “Boyhood”. A história de um garoto, filho de pais divorciados, da sua infância à juventude e que foi filmado, literalmente, durante treze anos (!!),nos intervalos dos compromisso de seus atores, três ou quatro dias por ano. O filme teve recepção triunfante no prestigiado festival de Berlim, onde Linklater recebeu o prêmio de melhor diretor, e tem sido aclamado pela crítica desde a tradicional Cahiers du Cinema à Rolling Stones. Simultaneamente, Linklater é o tema do documentário “21 years” de Michael Dunaway e Tara Wood, onde sua carreira é revista pelo próprio e por seus colaboradores mais próximos. Um reconhecimento tardio, mas justo.

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Miguel Stédile é zagueiro, gremista, historiador e dublê de jornalista. © 2014.

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