
Reduza a velocidade
A redução da velocidade nas marginais pegou o pessoal de jeito.
E enquanto uns falam que é pra aumentar a segurança, outros falam da perda de direitos, uns falam em maior velocidade média, outros de menor qualidade de vida.
Mas no fundo o que deixou o pessoal ensandecido foi ter mexido naquilo que é o maior e mais respeitado direito do paulistano, o motivo de orgulho, de alegria, sua reputação: o direito de ter pressa.
São Paulo é a cidade onde a buzinada chega antes do farol verde. Onde as pessoas correm nas estações de metrô, sobem as escadas rolantes apressadas (mas não deixam de ir pela escada rolante), onde as pessoas ficam bravas se você estiver andando devagar no shopping. Isso mesmo, no shopping.
Ao perguntar como vão as coisas para alguém que encontrou na rua, pode esperar a resposta padrão: ah, tô na correria.
A gente se orgulha de não ter tempo. De passar no Drive-through, de comer qualquer besteira, na mesa do trabalho, porque não podemos parar para nada.
A pressa está para o paulistano como a malandragem está para o carioca. Se você parar pra pensar, vai ter vergonha de ser daquele jeito, mas depois de tanto tempo dizendo o contrário, por falta de tempo pra pensar, a gente se orgulha.
Como que, de repente, alguém te obriga a ir mais devagar? A parar a corrida, a não ligar de demorar 4 minutos a mais no seu caminho. Sim, se for parar pra fazer a conta, não dá muito mais de 4 a 5 minutos extras no seu caminho pelas marginais com os novos limites.
Mas com a mesma velocidade que diminuíram os limites nas marginais, surgiu o ódio na internet. E na imprensa. Ódio que a gente não vê quando o assunto é falta de água. Deve ser porque, nesse caso, a culpa é do santo. E não estou falando de São Pedro.
De verdade, eu mesmo não gosto de andar nessa nova velocidade. O mundo parece devagar lá fora. Mas entendo o motivo. Só gostaria que o anúncio fosse feito de outra forma. Ao invés de usar como motivação os acidentes e mortes, poderiam dizer assim: “vamos diminuir a velocidade das marginais pra você diminuir a velocidade da sua vida. Desacelere, amigo. Respire, observe as coisas, não conte tanto o tempo, não se preocupe tanto e viva mais devagar. Reduza a sua velocidade, a sua necessidade de correr e pense se realmente isso é necessário ou se você só age assim porque está indo junto com o fluxo. Reflita. Refletir leva tempo, mas você vai ter tempo se parar de lutar contra ele. Não sei se vamos diminuir os acidentes, mas vamos diminuir as gotas de rivotril, os problemas psicológicos, o ódio no trânsito e ao trânsito, as visitas apressadas, a falta de tempo pra brincar com as crianças, o desespero pelo trabalho atrasado. Vamos aprender a viver mais devagar. Correr menos. Ser menos ansiosos. Vamos tentar ser mais felizes e ter mais tempo pra aproveitar essa felicidade. Reduza a velocidade das suas preocupações e aumente o seu tempo de vida.”
É por esse tipo de coisa que temos que ter pressa.
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Diogo Mono. Redator publicitário, tenta ser escritor, será pai de família e continua sendo um observador das coisas do cotidiano. © 2014