
Regras existem para serem seguidas ou quebradas. Não cagadas.
Hoje eu vou falar de um tipo de pessoa que todo mundo conhece. Na verdade talvez você seja uma delas: o caga-regras. O caga-regras é como qualquer cagão. Só que com uma diferença: o que você deposita na privada, ele sai soltando por aí, pela boca mesmo. E o mais triste é que ainda não inventaram um papel-higiênico que limpe o que o caga-regras faz.
O caga-regras é aquele sujeito que sempre tem alguma coisa pra ensinar pra todo mundo. Você está dirigindo, ele diz que você segura o volante do jeito errado. Você fala que foi a um restaurante ótimo e ele sempre conhece um melhor. É o cara que sabe tudo: sabe de política, sabe de cinema, sabe até o melhor caminho pra casa de todo mundo. Ele só não sabe uma coisa: que quando ele vira as costas e vai embora todo mundo fica falando mal dele.
O caga-regras tem uma relação religiosa com as próprias idéias. Ele tem certeza absoluta que as idéias dele não forem seguidas, a humanidade está perdida e todo mundo vai pro inferno. Mas na real é o contrário: conviver com um caga-regras é que é o inferno. Quer dizer, é pior que o inferno. Na boa, eu prefiro ficar dentro de um caldeirão fervendo, sendo espetado pelo garfo do capeta, com um headfone tocando sertanejo-universitário num ouvido e Justin Bieber no outro a ter que escutar um caga-regras falando.
Você pode achar que o caga-regras não admira ninguém além dele mesmo. Mentira. O caga-regras admira outras pessoas sim. Mas só pessoas que já morreram. Porque assim continua como o melhor ser humano vivo na face da terra.
E o caga-regras nunca , absolutamente nunca, vai concordar com você em nada. Se você for de esquerda, ele vai ser de extrema direita. Se você for de direita, ele vai ser um guerrilheiro cubano. Se você for de centro, ele vai te chamar de bunda-mole em cima do muro. Não adianta: ele nunca vai concordar com você. Se você falar que a mãe dele é uma pessoa maravilhosa, ele vai responder: quem, aquela vaca?
Outra coisa interessante é que o caga-regras nunca tem uma profissão de fazer, o caga-regras tem profissão de julgar. Ele não é o jogador, é o comentarista. Não é o artista, é o crítico de arte. Porque se ele fizer qualquer coisa, vai dar brecha pra alguém cagar regra no trabalho dele. E não tem coisa mais insuportável para um caga-regras do que outro caga-regras.
E já reparou que não existe caga-regras tímido? Verdade, a regra número um para ser um caga-regras é ser tagarela. Ele fala pelos cotovelos. E também fala pelos ombros, fala pelas orelhas, fala pelo nariz, fala pelos mamilos… Ele fala até por aqueles fiozinhos de cabelo que ficam escondidos naquele lugar escuro e úmido… O sovaco.
O Facebook, por exemplo, tá cheio de caga-regras, é fácil de reconhecer. Ele é aquele tipinho que posta pouca coisa, mas vive comentando os posts dos outros, falando que tudo aquilo ali tá errado ou é de mau gosto. E quando você discorda dele, ele te bloqueia. O que não deixa de ser bom, porque aí você fica livre dele. Se eu soubesse, teria discordado de você antes, rapaz.
E quem pensa que o caga-regras é um mal dos nossos tempos está muito enganado. Ele existe há muitos e muitos séculos. Na época de Jesus, por exemplo, já tinha caga-regras. Quando Jesus transformou a água em vinho, tava lá o caga-regras. Ele girou a tacinha, provou um gole e falou:
– Esse vinho está muito ácido, chama o sommelier.
Não contente, quando Jesus andou sobre a água, o caga-regras também tava lá desdenhando:
– Grande coisa… bom era o Moisés, que abriu o mar ao meio.
__________________________________________________________________________________________________________
José Luiz Martins. Humorista, publicitário e roteirista. Sócio da empresa Pé da Letra, de criação e produção de conteúdo. © 2014.