Desvendar os acontecimentos na Ucrânia – e a reação na Rússia – é um exercício de relembrar a história imperial russa. Enquanto a maioria dos eventos mais espetaculares das últimas semanas já é bem conhecido no Ocidente, existem algumas nuances que merecem um pouco mais de profundidade sobre o seu impacto na sociedade civil, em particular na Rússia.
O ultimato da Rússia de que as forças ucranianas as quais defendem a região autônoma da rendição da Crimeia podem muito bem levar ao isolamento da Rússia pela comunidade internacional como jamais visto desde a morte de Joseph Stalin, em 1953. As sanções econômicas, restrição de vistos e outras atividades de cooperação também estão sendo reduzidas.
Mas parece que o presidente russo, Vladimir Putin, não se abala com tais sanções – e pode até recebê-las em segredo.
As referências às sanções econômicas feitas pelo secretário de Estado dos EUA, John Kerry, dizem respeito principalmente aos ativos e atividades de indivíduos ligados à agressão na Ucrânia. Mas o ambiente econômico já está se desfazendo. Os empréstimos bancários à empresas norte-americanas que fazem negócios nesta parte do mundo já estão se tornando mais caros, porque os riscos são maiores. As incertezas sobre o futuro da ação do governo dos EUA, e sobre o potencial de retaliação do governo russo, devem ser desagradáveis em muitas salas de reuniões dos EUA.
Basta lembrar que quando os EUA impuseram sanções de vistos relativamente limitadas na Lei Magnitsky de 2012, a Rússia agiu de modo semelhante com uma proibição abrangente de adoções de crianças russas por parte dos Estados Unidos.
Outra incerteza desagradável para as empresas norte-americanas é que a Europa parece cautelosa e, talvez, um pouco intimidada com essas ações por causa de sua dependência de hidrocarbonetos russos. As ações unilaterais dos Estados Unidos que são incompatíveis com a União Europeia irão colocar as empresas dos EUA em desvantagem.
Olhando para outras áreas da sociedade civil, o contato físico entre os ex-moradores da então URSS e dos Estados Unidos foram um pilar da política externa dos EUA, mesmo durante alguns dos dias mais negros da Guerra Fria.
Durante a Guerra Fria, a cooperação no espaço da sociedade civil foi ocasionalmente interrompida e danificada, pois os intercâmbios científicos e acadêmicos também foram instrumentos das relações políticas entre os EUA e a ex-URSS, em ambos os lados.
A política externa e de segurança global de importantes realizações são atribuídas aos laços informais entre os físicos nucleares soviéticos e norte-americanos durante os dias mais terríveis da Guerra Fria. No período pós-soviético, tornou-se quase evidente em todos os lados e que as portas da comunidade mundial dos cientistas e estudiosos estavam abertas.
Alguns até lamentaram que a velha intelligentsia – grupo de pessoas que desenvolve e dissemina trabalhos intelectuais e culturais – soviética-russa estava morrendo devido à dissipação aparente do governo ditatorial e o apelo dos confortos oferecidos pela abertura dos mercados ocidentais.
Mas, com o reaparecimento da ditadura dura em casa e política externa agressiva no exterior, agora era evidente que a intelligentsia russa está de volta, viva – tais como as ações repressivas do governo.
Um proeminente historiador russo, Andrey Zubov, foi demitido de seu posto por escrever uma coluna criticando duramente a invasão russa da Crimeia. Zubov teve sorte de ter o emprego de volta após dois dias de sua demissão devido à sua visibilidade. Outros intelectuais russos que não têm essa proteção não terão a mesma chance.
Por isso, é muito importante que os cidadões do Ocidente que têm amigos e colegas profissionais das áreas de Ciências, Artes e Humanidades na Ucrânia e na Rússia mantenham e até fortalecem seus contatos com eles. Enquanto Putin e seus associados podem estar surpresos com o que aconteceu na Ucrânia – ou seja, a derrubada de um líder pró-russo por um levante popular – a derrubada do próprio Putin não é um objetivo realista na Rússia.
O único antídoto – mas não certamente uma cura – é que os indivíduos e grupos privados façam todos os esforços para continuar a cooperação com pessoas idôenas da Rússia, Ucrânia, e todos os países da região, em todas as áreas da sociedade civil, econômica, científica, técnica, acadêmica, profissional e cultural.
Ao mesmo tempo, será necessário que todos levem em conta o impacto inevitável das sanções do governo as quais, inevitavelmente, serão de ambos os lados.
Felizmente, para encontrar uma colega russo, já não é mais preciso suportar uma viagem de 14 horas e sofrer o jet lag. Hoje a tecnologia moderna oferece muitas opções, embora os governos hostis tentem também bloquear essas visitas.
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