Shake no shaker
Shake no shaker
No último dia 2 de junho, o Nutrition Business Journal (NBJ), empresa líder de pesquisa, publicação e consultoria de nutrição, produtos naturais e indústrias integradoras de saúde, divulgou o seu relatório anual de estimativas de mercado para os suplementos de perda de peso e nutrição desportiva, com as previsões da indústria até 2020. O resultado mostrou que na última década, houve um grande aumento da procura de academias em busca de curvas perfeitas, músculos definidos e eliminação total das incômodas gordurinhas localizadas. Fundamentada nesta preocupação, além das intermináveis horas gastas na prática de exercícios físicos, há uma maior preocupação com a alimentação e um aumento do uso de suplementos nutricionais. Por mês, nos EUA, cerca de 40 mil atletas gastam um total de 300 dólares em suplementos, enquanto os atletas ocasionais gastam em média 80 dólares. Só para se ter uma ideia, em 2001, há 10 anos, foram gastos 400 milhões de dólares.
Encontrados sem dificuldade em lojas virtuais e físicas, os suplementos alimentares são comercializados como uma combinação inofensiva, que prometem ganhos de massa muscular ou emagrecimento de forma rápida sem risco para a saúde, quando na verdade, deveria ajudar a complementar uma dieta e proporcionar benefícios, mas para evitar possíveis problemas, sua utilização demanda atenção e responsabilidade por parte do consumidor.
A formulação dos suplementos alimentares contem concentrações determinadas de macronutrientes, como carboidratos, proteínas e lipídios e opcionalmente micronutrientes, como as vitaminas e minerais. Cada uma dessas substâncias age de forma específica no organismo humano. Os suplementos dessa natureza chamados compensadores, possuem substâncias que auxiliam na ingestão alimentar e completam a absolvição de alimentos que não foram possíveis de serem aproveitados pelo organismo. A bebida de sabor agradável promete milagres aos que tomarem, embora os praticantes de atividade física não tenham por hábito seguir as indicações de um nutricionista, muitos sequer procuram ou não acreditam que com um treino apropriado e alimentação saudável também é possível obter bons resultados. Muitos veem na suplementação não apenas a melhora do desempenho das atividades físicas e mentais, mas uma forma de retardar o envelhecimento ou mesmo prevenir doenças. No entanto, há um consumo indisciplinado e silencioso destes produtos, sem um acompanhamento médico, e quase sempre, indicados por amigos ou conhecidos da academia. Efeitos colaterais já são registrados em superdosagens ou de alergias aos ingredientes contidos nos produto.
Hoje, a maioria dos suplementos é apresentada na forma de shakes, devido à sua finalidade. Imagine quantas cápsulas seriam necessárias para obter a quantidade de calorias que o produto fornece? Por isso é mais conveniente apresentá-los em pó.
A indústria de suplementos nutricionais para o esporte é uma das maiores e mais lucrativas do mundo e cresce em ordem exponencial. E com o mercado em ascensão, a oferta de marcas e produtos importados também aumenta, assim como nacionais, já que as fábricas brasileiras acompanhara igualmente o crescimento mundial. No Brasil foram consumidos 75,4 mil litros de shakes em 2011, um aumento de 29% em relação a 2009 e de 9% se comparado a 2010, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas.
Embora as necessidades nutricionais mudem de um indivíduo para outro, devemos ingerir diariamente uma determinada quantia de nutrientes para que o organismo funcione adequadamente. Porém, a partir de estudos em populações saudáveis, foi elaborada pelo ‘Food and Nutrition Board (FNB)’ uma tabela de recomendações nutricionais, chamada de RDA, que estabelece valores apropriados para garantir estas necessidades da maioria da população. Utilizados como base para a adaptação de nutrientes na dieta, estes valores determinam que é possível obtê-los a partir de uma boa alimentação. Também se sabe que existem doenças ou alterações no metabolismo que podem modificar a absorção de determinados nutrientes, como a anemia e a osteoporose, o que exigiria a suplementação. É ai que entram os shakes nutricionais. Levando em conta que na atividade física se elimina carboidratos e gorduras, os shakes são uma boa fonte de reposição do glicogênio muscular (substância responsável por dar energia ao nosso corpo), porém, não devem ser usados como substitutos de uma boa refeição. Dentro do contexto alimentação saudável e equilibrada junto com a prática de exercícios físicos a estratégia é positiva, mas a alimentação não deve se basear apenas em shakes que precisam complementar uma alimentação balanceada, cheia de vitaminas, antioxidantes e nutrientes, sendo assim, não fará nenhum mal.
Deveriam ser indicados para atletas de competição que perdem muitas calorias devido ao treino pesado e frequente, já que o gasto calórico dessas pessoas é tão alto que somente com a alimentação não é suficiente para suprir a necessidade calórica e nutricional. Por isso é importante ter a prescrição de um médico ou nutricionista, que além da suplementação pode elaborar um plano alimentar apropriado e relacionado com o suplemento. Daí surge uma dúvida… e no caso de praticantes de academia ou esportistas? Os esportistas com uma alimentação equilibrada, não precisam se preocupar. As deficiências de vitaminas e minerais são comuns para quem limita o consumo de alimentos, em vista à manutenção do peso corporal sem acompanhamento profissional assim, a suplementação é necessária para que se obtenha um melhor desempenho na atividade física. Por isso, são realizados exames clínicos e laboratoriais para definir as legítimas deficiências de cada indivíduo. O que é preocupante é que muitos praticantes de atividades físicas utilizem por conta própria, suplementos nutricionais quase sempre orientados pelo instrutor da academia ou por colegas. Para praticantes de atividades físicas ocasionais, onde o gasto calórico não é tão grande, não existe necessidade do uso de suplementos principalmente, quando deixam de se alimentar de forma correta para utilizá-los. Escolha errada, pois os alimentos possuem muito mais nutrientes do que os shakes, que muitas vezes têm apenas um nutriente específico e que não estão em lojas virtuais, prateleiras de farmácias e de lojas.
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Sonia Nascimento é jornalista, Pós-Graduada em Direção Editorial pela ESPM. © 2014.
