
Simpatia para dias melhores…
E lá vem mais uma virada de ano. Com ela, as simpatias e fórmulas para um novo ano feliz e aquele desejo forte no coração de que tudo seja diferente! Durante vinte e poucos anos eu vivi isso. Pulei ondas, guardei sementes de uva em nota de dólar na carteira, comi lentilha em pé na cadeira, quebrei taça, usei roupas de todas as cores que você possa imaginar e até todas elas juntas. Porém, nada disso fez efeito ou garantiu que o ano fosse perfeito. Aliás, quando pulei ondas, dois dias depois quase morri afogada, o que significa que além de não fazer efeito, o ano não começou nada bem.
Tudo porque a paz não vem através da cor de roupa que você usa, a paz se alcança com o espírito. O amor não chega porque você usou um vestidinho cor de rosa, ele só brota quando você para de desejar coisas para si próprio e passa a olhar para os outros. A paixão… ela não está em uma calcinha vermelha, a paixão está na capacidade de sorrir com coisas simples do cotidiano, com a capacidade de olhar e se deslumbrar com pequenos gestos, isso é se apaixonar. O dinheiro, ele não aumenta quando está amarrado com nó dentro da carteira, ele se multiplica quando você o faz circular, quando você compartilha.
Assim, nos últimos anos parei de achar que a vida iria mudar por causa de vãs simbologias da virada do ano. Agora uma coisa só eu tenho buscado: o caminho, a verdade e a vida. Não, eu não desaprendi a contar, é que acredito que essas três coisas são uma só. Embora você talvez ache que isso não seja possível.
O ano que passou foi marcado por polêmicas, opiniões e desventuras. E para cada situação existem os donos da verdade e os que correm de um lado para o outro, compartilhando inverdades sérias da mesma forma como o fazem com as fúteis simpatias. A humanidade sempre foi instável, mas temos sido cada vez mais líquidos. Vivemos um tempo em que as pessoas se amontoam e tomam forma de acordo com a opinião dos outros ou com aquilo que mais se tem divulgado, imprimindo tudo superficialmente. São pessoas cheias de palavras, mas vazias de pensamentos. Que tem muito para dizer, mas pouco fazem.
Portanto, anseio por um mundo menos fluido e mais rígido. Parece estranho falar sobre isso, mas o tempo tem mostrado que as pessoas não sabem o que é flexibilidade. Elas deixaram de ser flexíveis no sentido de compreensivas e passaram a ser flexíveis no sentido de voláteis. De não ter um principio, um fundamento, um raciocínio. E os dois extremos fazem mal.
Então nesse ano eu espero que você seja menos folha ao vento e mais árvore frondosa. Porque é bem verdade que a folha ao vento alcança altos voos e vê muitos lugares, mas vindo a chuva ou o sol, rapidamente ela seca e morre. No entanto, quando a folha faz parte de uma árvore, quando ela tem uma raiz, ainda que não seja visível aos outros, dia e noite tem vida correndo por dentro dela. Quando faz parte de uma árvore frondosa, a folha purifica o ar, faz sombra, tornando-se abrigo e, principalmente, ajuda a gerar frutos. E ainda que venha a chuva e o sol, o que poderia ser uma adversidade fatal, se transforma em fotossíntese, gerando mais vida.
A folha ao vento viu muitos lugares e muitas coisas, mas isso não serviu para nada, a não ser para mostrar aos outros onde ela era capaz de chegar. A folha da árvore, é fato, talvez não tenha ido a muitos lugares, nem visto muitas coisas diferentes, mas a sua vida inteira foi útil e fez sentido.
Por isso, o que desejo nesse próximo ano é que sejamos mais rígidos e frondosos, que façamos sentido… porque de gente mole o mundo já está bem cheio.
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Claudia Giron Munck é Publicitária, Relações Públicas, especializada em Marketing e Mídias Digitais. Atua na área de Comunicação do Sesc SP e é Coordenadora Editorial da Revista Gente Nova.