Com o fracasso econômico da URSS e a queda do Muro de Berlim, em 1989, o mundo sofreu profundas transformações de ordem política. Antes, as relações internacionais eram diretamente influenciadas pelo modelo bipolar em que se dividia o sistema internacional, sendo que os países do Ocidente orbitavam em torno dos Estados Unidos e os países do Oriente eram articulados pela influência política soviética.
Desde então, a economia política internacional rendeu-se ao modo de produção capitalista, a abertura dos mercados ultrapassou fronteiras, a globalização e a desregulamentação dos mercados penetraram praticamente todas as relações materiais e imateriais entre Estados, empresas e indivíduos. A política internacional passou a ter atuação mais robusta de OIs, ONGs e de Estados antes considerados atores de pouca relevância para o cenário global. A agenda internacional, predominantemente securitária, teve sua pauta multiplicada pela crítica feminista, pela questão da sustentabilidade e dos direitos humanos.
Adicionalmente a isso, os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001 ao World Trade Center, nos Estados Unidos, contribuíram para alterar completamente a ordenamento político e a concepção de segurança entre Estados. Uma tragédia que marcou para sempre a história da humanidade.
Soma-se a isso, a Crise Financeira de 2008, que imputou um duro revés econômico, e consequentemente político, aos países desenvolvidos, ainda que tenha favorecido – diretamente ou indiretamente – ou no mínimo deixado de ofuscar, a ascensão econômica dos países emergentes.
À parte a História recente, todos esses acontecimentos imprimiram uma configuração multilateral às negociações internacionais. Após estes acontecimentos, a balança de poder de âmbito internacional parece tender para um maior equilíbrio de forças, com o fortalecimento das demandas e maior visibilidade que ganharam países como África do Sul, México, Indonésia e Brasil.
Ora, a recuperação do sistema econômico internacional, principalmente dos países da União Europeia e da América do Norte, é um objetivo pelo qual todos anseiam e contribuem atualmente. Afinal todas as partes envolvidas têm muito a ganhar com isso. A retomada do crescimento dos países dos países centrais pode elevar a demanda comercial, afastar maiores riscos de instabilidade monetária e colocar em marcha, novamente, o mundo do desenvolvimento tecnológico.
Porém, diante dos indícios de recuperação econômica e maior estabilidade política nesses países, vem a tona uma velha preocupação dos países periféricos: a retomada dos países desenvolvidos implicará em perda de poder de barganha dos países emergentes e em vias de desenvolvimento? Os países periféricos serão inseridos nesta retomada para o progresso, ou continuaram a desempenhar um papel secundário e servil na conjuntura global?
Os países em processo de industrialização, assim como os Estados emergentes em seu maior número evoluíram muito nos últimos anos. Observa-se maior nível de investimento no continente africano com a entrada de empresas brasileiras e chinesas interessadas em seu mercado. México e Indonésia, segundo as perspectivas do mercado, podem despontar na arquitetura econômica presente e futura. Entretanto, a conjuntura internacional da última década favoreceu o desempenho desses países, mesmo aqueles que passaram por grandes reestruturações de âmbito doméstico, como o Brasil e o aumento da distribuição de renda. É preciso pensar e se preparar para maiores desafios com a recuperação da competitividade dos Estados desenvolvidos, que ainda possuem patentes tecnológicas, produção acelerada e de alta qualidade.
Por Luiz Renato Nais