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Sobre opiniões e escolhas

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Paulo

Sobre opiniões e escolhas

Há algum tempo eu escrevi nesta coluna sobre a compulsão de opinar em questões particulares de terceiros, sejam conhecidos ou amigos. Na verdade, considero que o ponto vem até antes de externar a opinião: que necessidade as pessoas tem de ter uma opinião sobre a vida alheia?

Se lhe parece estranho não ter uma opinião sobre algo, talvez seja porque vivemos numa sociedade de culto à personalidade e ao ego; com essa visão exagerada de que todo mundo precisa opinar e se posicionar sobre tudo. Quando alguém se posiciona sobre questões públicas, sobre as contas do governo, sobre o que fazem com o dinheiro dos impostos que você paga, naturalmente, está ótimo. Me refiro à essa compulsão por posicionar-se sobre assuntos que absolutamente nada tem a ver com “interesse público”. Se a celebridade da hora tem uma preferência sexual; alguém logo sente a compulsão irresistível de ter uma opinião sobre o assunto.
Que diferença faz? Em se tratando de alguém que não faz parte da sua vida, qual poderia ser a diferença que faria a sua opinião sobre o que a pessoa faz entre quatro paredes? Aliás, se parar para pensar um minuto vai constatar que no caso de 90% das pessoas com quem convive, você não tem a menor idéia do que elas fazem entre quatro paredes. Muita gente pode “achar” que sabe; mas daí a efetivamente “saber” vai uma distancia enorme.

Se esse excesso de opinião já é algo terrível no dia a dia entre amigos e conhecidos, a coisa fica muito mais complicada quando se trata de familiares. A compulsão por opinião e controle da vida alheia chega às raias da loucura quando o assunto são familiares próximos, como pais, filhos, irmãos. Homens e mulheres, maiores de idade, legalmente responsáveis pelos seus atos – vivem freqüentemente uma invasão de seu espaço íntimo que é completamente descabida.

Por tudo isso, chamou-me muita atenção o que uma amiga contou outro dia, sobre a conversa que teve com o filho. O filho da minha amiga mal chegou à adolescência – ou seja, é exatamente aquele momento onde é muito importante que o tema da sexualidade venha à tona. E veio, como é natural. E, também como é natural, surgiu o tema da identidade sexual e da homossexualidade. E lá pelas tantas o menino disse: “eu gosto de meninas, mãe”.

A resposta dela foi o supra-sumo do resumo, a mais perfeita tradução do que significa respeito à dignidade de outro ser. O reflexo da absoluta consciência de que um ser jamais pode considerar-se “dono” de outro porque tem a responsabilidade de criá-lo e educá-lo. Foi a resposta mais Novo Mundo que eu poderia imaginar. A resposta foi, simplesmente:

– “Filho, tudo bem. Esta escolha é somente sua, e ela não me pertence”.

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Paulo Roberto Ramos Ferreira é Diretor de Comunicação da ONG internacional New Earth Nation; Conselheiro e Representante do Nikola Tesla Institute em SP e autor do livro O Mensageiro – O Despertar para um Novo Mundo. © 2014.

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