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A festa de 15 anos

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Monique, que não era boba, mas sabia muito bem fingir quando interessava, entrou na loja logo atrás de sua mãe.

A vendedora, que também não era boba, mas sabia muito bem fingir quando convinha, logo se aproximou com aquele charme peculiar que toda vendedora em fim de mês tem quando quer bater sua meta.

“Quem é essa menina linda?”, perguntou, sem sequer ter olhado de verdade para a lindeza da garota.

A mãe se apressou para responder que “essa princesa é a Monique, não é filha? Ela vai fazer 15 anos e sempre sonhou com uma festa… então precisamos de um vestido à altura dessa comemoração”.

A vendedora logo percebeu que era sua chance de fazer o mês gordo e trouxe os maiores, mais pufantes, coloridos e chamativos vestidos da loja.

“Filha, esse vai ficar lindo. Prova esse, e esse azul. E pega esse rosa para depois da meia noite. Moça, posso falar para as amiguinhas que vão dançar a valsa virem aqui também? Os vestidos são lindos.. Vai filha, vai se trocar”.

Monique provou um a um, desfilando lentamente sobre um tapete vermelho já surrado e um pouco mofado.

A cada aparição, a mãe delirava de orgulho e a vendedora, de lucro.

“Lindo, lindo, lindo…”, “Nossa, ela vai arrasar…”, “Esse está super na moda, não está querida?”, “Tenho vendido muitos desses, faz o maior sucesso..” “Ah, mas se vende muito é comum, e se tem uma coisa que Monique não é é comum… não é, princesa?”

Sempre desconfie de uma vendedora que acha que você ficou linda com todas as roupas que experimentou. E de uma mãe que te chama de princesa mas não é uma rainha.

Ao final, 2 vestidos. Um para antes da meia noite e um para depois, quando ela já teria virado uma mulher de verdade.

Verde, cor preferida da mãe, e roxo, para homenagear o vestido que a mãe usou quando ela mesma fez 15 anos.

“Ela ficou linda, não ficou? Ai ela sonha tanto com essa festa que tenho até medo que ela tenha um troço na hora e desmaie”… “Ela vai adorar, é um momento super importante da vida de uma mulher…. Eu mesma lembro da minha até hoje”.

Saíram felizes. De um lado, a vendedora que nunca teve uma festa de 15 anos, e nunca sentiu falta.

Do outro a mãe da Monique, satisfeita.

Monique?
Não, ninguém perguntou a opinião dela ou sequer quis ouvir, caso ela tenha tentado expressá-la.

Ainda bem que sua mãe consegue enxergar seus sonhos.
Ou pelo menos acredita que consegue.

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