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Stand Up Crônicas: E VIVA A TECLA MUTE

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E VIVA A TECLA MUTE

Já reparou que as pessoas que mais gostam de ouvir música alta são as com o pior gosto musical? Na verdade, elas já entenderam que seus gostos não vão melhorar nunca e estão tentando ficar surdas para se livrarem dessa maldição.

O gênero que me perturba há mais tempo talvez seja o sertanejo. Para cantar sertanejo, você tem que saber fazer uma voz bem fininha e tremer cada nota como se sua garganta estivesse com Mal  de Parkinson. Mais ou menos como o Bruce Dickinson faz no Iron Maiden.

As letras dos sertanejos só falam da dor de corno. O que é perfeitamente compreensível: com maridos cantando com aquelas vozinhas, as esposas invariavelmente acabam dando para outros caras.

E quando o sertanejo começou a dar sinais de queda nas vendas, lançaram o sertanejo universitário. Quem comemorou foi o governo, que passou a computar esses artistas como sendo formados em curso superior, para tentar melhorar as estatísticas da educação no país.

Logo depois do sertanejo, mas igualmente chato, veio o pagode. O pagode nada mais é do que um samba muito, mas muito adocicado mesmo. É como se você pegasse o Adoniran Barbosa e jogasse dentro de uma piscina de marshmellow.

Os pagodeiros fazem de tudo para soarem doces e fofos – alguns quando cantam, parecem até que estão chorando. E é exatamente assim que eu ouço a música deles.

Quero deixar claro que não tenho nada contra o samba. Muito pelo contrário, gosto muito de vários estilos de samba – como por exemplo o samba de raiz. Mas para os pagodeiros, samba de raiz é só quando a dançarina do grupo está com a tintura do cabelo mal-feita.

Outro gênero que faz muito sucesso no Brasil é o axé. Outro dia, eu mesmo baixei um monte de mp3 de vários artistas de axé. Não porque eu goste, mas só pelo prazer de fazer algo ilegal contra eles.

Apesar de eu não gostar, devo reconhecer a importante contribuição do axé para a sociedade. Graças a suas letras, pessoas com QI abaixo de zero desenvolvem habilidades motoras e aprendem a “tirar o pé do chão”, “levantar a mãozinha” e “balançar a bundinha”.

Nos últimos anos surgiu o funk que, infelizmente, não guarda nenhuma semelhança com seu xará norte-americano. Aliás, se James Brown estivesse vivo e soubesse que tipo de música é chamada de funk hoje em dia, ele mudaria o nome da música que ele fazia para “Oftamologista”.

Os defensores do estilo argumentam que o ritmo e a sonoridade do funk são bons. Depende ao que você compará-los: perto de rolar de uma escada caracol por 20 andares e dar de cara com o goleiro Bruno, funk é bom.

O funk também teve um filho: o funk ostentação. Para fazer o estilo, basta comprar roupas de grife, relógios caros e carrões importados. Gastando tanto, obviamente não sobrará dinheiro para você comprar nem uma quitinete e a única alternativa será morar na favela. Com essa inteligência dos funkeiros, fica explicado por que não existe funk universitário.

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 José Luiz Martins. Humorista, publicitário e roteirista. Sócio da empresa Pé da Letra, de criação e produção de conteúdo. © 2013.

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