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10 anos agoon
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Talvez você não conheça Lord Kelvin, mas certamente conhece a escala de Graus Kelvin; batizada em homenagem a ele. Por aí você pode ver que ele foi bastante importante e influente no mundo científico da época, o início do século XX. É relevante qualificar este importante “Sir” britânico; um homem culto, bem-formado e informado, para avaliar uma de suas declarações mais famosas. Em 1900, no auge de sua popularidade e reconhecimento científico, Lord Kelvin declarou: “Não há nada novo a ser descoberto na física agora. Tudo que resta são medições mais e mais precisas.” A frase ficou muito famosa cerca de 5 anos depois. Porque Albert Einstein apresentou a sua Teoria da Relatividade. E mudou completamente o entendimento da física, do átomo, da energia, do universo e tudo mais.
O que houve com Lord Kelvin? Como é que uma das mentes mais brilhantes do seu tempo pode “escorregar” desse modo? A resposta talvez seja bastante simples: ele permitiu considerar que sabia muito. Permitiu-se apegar às suas próprias certezas. Foi derrubado pelos acontecimentos; pelo gênio que diria, mais tarde: “a imaginação é mais importante que o conhecimento”. Lord Kelvin considerou que tinha muito conhecimento; mas parece que a imaginação não era seu forte.
Este é um exemplo que deveria dizer algo para todos nós, pessoas comuns, nem “lords”, “sirs”, nem cientistas consagrados como Kelvin. Deveria nos dizer: cuidado com as suas certezas. Os homens mais cultos do mundo já derraparam nesta pista escorregadia que é apegar-se às suas idéias. Isto posto, vamos observar agora algumas idéias interessantes, que foram rotuladas de “teoria da conspiração” mundo afora, e geralmente muito ridicularizadas.
Michael Ruppert
Desde 1980, um homem chamado Michael C. Rupert, ex-policial de Los Angeles, fez uma série de afirmações bombásticas contra a atuação de algumas agencias do governo americano. Entre as principais, estava, por exemplo, a declaração de que o Governo Americano fazia espionagem interna, escutava ligações telefônicas de civis americanos sem nenhuma razão aparente e que mais recentemente havia passado a monitorar toda a rede mundial de computadores. Ruppert não tinha, entretanto, documentos que pudessem provar suas declarações. Foi chamado de louco e paranóico por décadas. Até que Edward Snowden deu a público, através do jornalista Glenn Greenwald, os fatos sobre a espionagem da NSA no mundo. Os documentos não apenas comprovavam o que Ruppert dizia sobre a vigilância, mas provavam uma extensão muito maior do que ele havia apontado. Outra das declarações de Ruppert (ainda não comprovada) é ainda mais chocante: Em 15 de novembro de 1996, numa reunião aberta na prefeitura de Los Angeles, Ruppert confrontou publicamente o então diretor da CIA, John Deutch, dizendo que, em sua experiência como oficial de narcóticos da polícia de Los Angeles, havia descoberto claras evidências de que a CIA estava envolvida na organização e tinha cumplicidade no tráfico de drogas na cidade. A reação do diretor da CIA na ocasião foi tão ruim e desarticulada que ele acabou sendo afastado do cargo.
Campanhas de difamação
Uma das declarações de Ruppert que foi mais ostensivamente ridicularizada: “…desde que revelei informações que desagradaram o governo ou alguma de suas agencias, tenho sido sistematicamente perseguido. Há uma campanha oculta contra mim, uma campanha de difamação destinada a destruir o meu nome e a minha reputação. O Governo dos Estados Unidos e algumas de suas agencias estão por trás da orquestração desta campanha”. Este foi um dos escândalos mais fartamente provados pelos documentos de Edward Snowden: toda uma divisão da NSA é dedicada precisamente a perseguir, difamar e destruir a reputação de “opositores”, ou seja, pessoas que fizessem denúncias ou revelassem fatos de deveriam ficar ocultos. Os documentos revelados incluíam detalhes sobre como isso era feito, instruções e métodos para destruir a reputação de indivíduos acusando-os anonimamente, ou através de agentes da NSA trabalhando sob nomes falsos, de atos impróprios, comportamento indecente, realizando acusações de cunho pessoal.
Área 51
Uma das mais antigas e famosas teorias da conspiração é a Área 51; uma base aérea americana que desde os anos 50 tem ocupado as linhas de muitos tablóides. Segundo o que foi por muitos anos considerado uma “lenda urbana”, seria onde o Governo Americano manteria objetos voadores não-identificados, entre eles o famoso objeto recuperado de uma queda em Roswell, em 1947. Desde os anos 50, o governo norte-americano repetiu uma única resposta sobre qualquer assunto ligado à Área 51: “Não existe área 51. É apenas uma pista da força aérea em Nevada e nunca se chamou Área 51.” Qual não foi a surpresa de muitos quando, em julho de 2013, num documento relacionado ao bombardeiro V2, mantido em sigilo “top secret” até então, os pesquisadores da George Washington University encontraram uma clara menção nominal específica, à base em questão denominada exatamente como Área 51. É certo que não houve confirmação oficial sobre ÓVNIS na base, mas é no mínimo curioso imaginar por que o governo americano passou todos esses anos negando a existência e o nome sem que houvesse algum tipo de razão “interessante” para isso.
Esses são apenas uns poucos exemplos entre centenas de outros. Qualquer um pode ler a respeito em milhares de sites na internet. Por estes poucos, mas extremamente relevantes exemplos, percebe-se o quanto é importante manter a mente aberta e livre de preconceitos. A própria mídia, por muitos anos, consciente ou não, fez parte de manipulações deste tipo cada vez que decidia usar o tom de ridículo para tratar de assuntos controversos. Hoje, num mundo em que “tudo que é sólido pode derreter” em poucos minutos sob o impacto de revelações amplamente documentadas, vale a pena lembrar bem de Lord Kelvin: o apego às próprias certezas cria muros para nós mesmos. Se é que atualmente podemos ter certeza de algo, talvez seja a certeza absoluta de que não podemos prescindir de um saudável ceticismo quanto às afirmações oficiais, declarações de governantes em referência àquilo que um dia foi chamado de “teorias de conspiração”. Nunca se sabe qual é a próxima que vai ser provada como realidade.
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Paulo Ferreira é escritor, coach e consultor em desenvolvimento organizacional do bem estar humano; conselheiro e representante do Nikola Tesla Institute em SP. © 2014.