
Ter problemas é inevitável. Sofrer é opcional.
Quando falamos em auto-conhecimento e consciência, muitas vezes nos referimos a processo mentais, perspectivas; “ângulos mentais” – que tem a capacidade de alterar completamente o modo como encaramos diversas situações. Normalmente as pessoas acham que isso é bastante teórico, e não se aplica muito aos seus desafios cotidianos. Não é verdade. E eu tenho um exemplo extremamente prático e real para compartilhar sobre isso: Dona Cida, (a minha mãe) é uma senhora de pouco mais de sessenta anos, e não é exatamente a pessoa mais “tranqüila e segura” deste mundo. Ela é bastante preocupada; com tudo e com todos, especialmente quando o assunto são viagens, e, ainda mais, viagens aéreas. Por isso, quando ela anunciou que voltaria de Curitiba, onde estava passando uns dias com minha irmã, “de avião”, nos pareceu surpreendente que ela dissesse isso tão tranquilamente.
O fato é que, sabendo das suas preocupações, minha irmã preparou-a minuciosamente para enfrentar “a maior turbulência de todos os tempos”. Descreveu, com riqueza de detalhes, como o avião poderia “pular”; corcovear; parecer “um ônibus numa estrada esburacada”; e por aí vai. Na noite do embarque, chovia. Céu carregado em Curitiba é quase certeza de turbulência. Dona Cida escolheu sentar-se à janela. Observava o céu e as nuvens, via os raios ao longe, os olhos perdidos na beleza das nuvens que ficavam abaixo do avião. Enquanto isso, claro, muita turbulência. O lanche não foi servido. Os passageiros deviam ficar sentados, e com seus cintos atados. E dá-lhe chuva, raios, e o avião chacoalhando todo.
Dona Cida? Ria. Para ela, estava tudo normal. Ela não havia voado antes. E foi preparada para enfrentar aquilo. Praticamente, “contava” com a turbulência. Na visão dela, nada de “anormal” estava acontecendo, e era apenas mais um dia comum na aviação.
Outros passageiros, quase todos com muito mais horas de vôo que Dona Cida, que até então não tinha nenhuma, passavam mal. Pegavam seus saquinhos de emergência. Arregalavam os olhos e faziam suas preces. Muita gente passou mal. Houve quedas de pressão, alguns choraram. Dona Cida continuava curtindo a vista da janela.
A turbulência passou já quase em São Paulo. Não houve nada de mais, e na verdade, se houvesse, nenhum passageiro poderia mesmo fazer absolutamente nada a respeito. O vôo terminou perfeitamente bem. Todos os mais de cem passageiros viveram a turbulência. A maioria deles, passando mal, com muito medo, quase em pânico. Mas não Dona Cida. Ela viajou feliz da vida, olhando as nuvens e curtindo tudo.
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Paulo Ferreira é Diretor de Comunicação da ONG internacional New Earth Nation; Conselheiro e Representante do Nikola Tesla Institute em SP e autor do livro O Mensageiro – O Despertar para um Novo Mundo. © 2014.