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The Girl/Friend Blues

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TimErnani

The Girl/Friend Blues

Você tem uma amiga, ela é legal pra caramba, você é legal pra caramba, você tá sozinho há um tempo, ela tá sozinha há um tempo, vocês saem, se divertem juntos, a conversa flui, trocam confidências, ela é interessante, gostosa, tem um sorriso lindo e aí, quando você menos espera você tá olhando pra ela com outros olhos, e acha que pode rolar um algo a mais.
Se isso acontecer, meu amigo, aprenda a sorrir.
Urgentemente.
Porque se não rolar – e as chances são grandes – você vai precisar.
Miríades de homens sucumbem ao poder das amigas, é de dar pena a ressaca moral no dia seguinte, a boca com aquele gosto de fiz merda que fica, o pensamento lá ainda confuso entre o “porra, porque não?” e a resposta cortante “porque nós somos amigos”, certeira como uma cruzado do Ali.
O lance é que as chances de dar merda são bem grandes. Pensa bem: em tempos de redes sociais, inbox, WhatsApp a mulherada é mais cantada do que nunca, fora a rua, a feira, a construção, o açougue. As mulheres recebem milhares de cantadas por dia, das mais legais às mais chulas e, caso ela queira, é uma mera questão de escolha. Mas em você ela confia, você é o amigo do sexo oposto com o qual ela pode se abrir sem que olhos gulosos recaiam sobre ela, e no momento que seus olhos gulosos recaem sobre ela, babau: você se tornou mais um, igual a qualquer um, igual a qualquer outro. A diferença é que a decepção é maior, porque com qualquer outro ela nem se importava tanto, mas com você… putz.
E quando ela se afastar sem muitas satisfações, for vaga, monossilábica, não ouse culpar a moça pelo fim da amizade, com o argumento raso de que “poxa, afinal não éramos tão amigos, né? Se a amizade acabou tão fácil…” Não. Não vem com essa não porque você sabe, e eu sei, que todos nós temos ali aquela amiga que também te olhou diferente, aquela fucking friend que sucumbiu, que também ficou a fim de você, e que usou as mesmas armas e a mesma lógica que você pra te conquistar, e da qual você também se afastou lentamente, seja lá quais foram os seus motivos.
Você também está na outra ponta da verdade que você criou pra usar a seu favor.
Se envolver com, e se deixar envolver por uma amiga é foda.
Mas a gente vai. A gente acredita, a gente acha que pode dar certo, acredita que nossa lógica seja inquebrantável, nos armamos de todos os argumentos desde os mais sofisticados até o mais ralé dos xavecos, e a gente vai. E a gente até consegue, ora veja você! Ali num momento de carência dela ou dos dois, de incerteza, de bebedeira, a gente até consegue um beijo, uns amassos, uma trepada, a gente consegue.
Se rolar de boa, bão demais.
Mas se o que rolar for negação e constrangimento, quando vocês se encontrarem no dia seguinte, siga aquele bom conselho que eu te dei de graça: sorria.
Aprenda a sorrir descaradamente, desavergonhadamente, cinicamente, sorria como se nada tivesse acontecido, como se fosse mais um encontro casual, sorria como se você estivesse de boa, como se você não mais acreditasse que daria certo, sorria um sorriso bobo, burro, sorria um pedido vacilante de desculpa e sorria quando ela balançar a cabeça dizendo que tá tudo bem, sorria com medo de que ela se afaste, sorria tentando se enganar de que uma amizade vale mais.
Sorria como se não fosse verdade que seria bom, bom pra caramba.
Sorria.
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Tim Ernani é diretor de arte, é pai e é filho, e é empreendedor. E mora em São Paulo. E gostaria de ser mais coisas, mas é só isso mesmo.

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