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Após a luta burocrática que o cidadão brasileiro enfrenta para conseguir receber a aposentadoria, o anseio pelo descanso, ainda que temporário, é sempre uma realidade. São anos de labor dedicados ao exercício profissional que merecem ser recompensados com um pouco lazer e por que não uma viagem?
“Hoje eu posso viajar tranquila, já não me preocupo mais com as atividades de casa. Estou no tempo de viver pra mim, me doei para a família por mais de vinte anos”, conta dona Marcelina, 72 anos, ao planejar seu próximo destino na região Nordeste. Poder viajar sem que as tarefas do dia a dia atrapalhem o passeio é um aspecto a ser considerado, pois envolve dinheiro e tempo.
Em países da América Latina e da Europa existem diversos programas de incentivo ao entretenimento do idoso. No Brasil, por exemplo, há o programa “Viaja Mais Melhor Idade”, promovido pelo Governo Federal. Os pacotes turísticos, uma das opções mais escolhidas, recebem um desconto nas diárias e em outros serviços como guia turístico e aluguel de automóveis.
Alguns hotéis já captaram a tendência do turismo na terceira idade e decidiram aplicar algumas facilidades na estadia do idoso, como conta a gerente hoteleira Ana Fazzani: “Aqui quando recebemos reservas de pessoas acima de 65 anos, oferecemos até 15% de desconto nas diárias. Essa manobra promocional promove mais interesse para que o cliente volte outras vezes”.
Viajar é sempre um tema que requer planejamento para que seja um momento prazeroso e que lhe traga boas recordações no futuro. É considerando o perfil do aposentado brasileiro que o analista de mercado de turismo, Tadeu Malheiros, sustenta que a estabilidade financeira do idoso é frequentemente ponderada para calcular os descontos oferecidos por agências de viagens e pelo setor hoteleiro: “Não levamos em conta se o cliente é rico ou não, quando ofertamos 20% de desconto nos passeios extras, por exemplo. Consideramos que o cliente em potencial possui uma fonte renda, muitas vezes duas, que é separada para gastos com lazer. Isso traz segurança para as empresas”.
Com tantas facilidades para realizar diversas expedições pelo país ou no exterior, os benefícios físicos e emocionais são muitos, como explica a psicóloga Mayumi Kanazawa: “Muitos aposentados não conseguem desacelerar o ritmo quando param de trabalhar. É importante que seja um processo gradual e viajar pode ajudar a retomar as ideias antes deixadas para trás. Conhecer mais da cultura do seu país ou simplesmente fazer novas amizades já contribui para a saúde do idoso.”
Que viajar faz bem, esse é um benefício que todos nós sabemos, mas, existe diferença entre viajar aos 25 anos e fazer uma excursão em grupo aos 70? Para esse questionamento, responde a assistente social, Vera Macedo, que há 12 anos coordena viagens em grupos da terceira idade: “o idoso precisa se sentir integrado à sociedade e a excursão em grupo é uma das formas de dividir momentos de alegria, fazer novas amizades, conhecer lugares e o melhor de tudo, sempre acompanhado”.
Após planejar a duração da viagem e organizar o orçamento para saber quanto é possível gastar, chega a hora de decidir o destino, que é outra parte fundamental para uma viagem de sucesso.
“Aqui em casa, eu e o Beto, meu marido, decidimos que cada ano um de nós é quem escolhe para onde iremos. Ele é pé-frio, no ano passado fomos ao Rio de Janeiro e choveu os cinco dias da viagem”, conta dona Amélia Barbosa, 78 anos, depois de comprar as passagens aéreas para a Grécia, a próxima parada do casal em dezembro.
É possível viajar para regiões de clima mais ameno, sem precisar ir tão longe. O estado de Santa Catarina cultiva o chamado turismo de sombra, as temperaturas são mais baixas e isso atrai mais os idosos. É uma ótima opção para quem tem problema para caminhar e precisa de sombra.
Já para os que preferem as altas temperaturas, Caldas Novas, em Goiás, é um destino muito escolhido no verão. “Já fui três vezes e vou a quarta no ano que vem. É bom aproveitar o sol, eu volto com bastante energia”, conta o senhor Aldair Siqueira, 86 anos, que viaja em grupos de excursão há quatro anos.
Nesse mesmo clima, não podemos deixar de citar a Cidade Maravilhosa, que dista apenas 450 km da capital paulista: “O Rio de Janeiro é muito lindo, só tem paisagem de tirar o fôlego. Não consigo trocar de destino, faço esse roteiro há seis anos”, diz o senhor Ary Medeiros, 72 anos, ao comprar a passagem de ônibus para o feriado do dia 12 de outubro.
Com as dicas de planejamento, o conhecimento das vantagens e uma gama de escolhas de cidades, só falta, enfim, viajar. Depois de uma fase da vida repleta de atividades e obrigações, o exercício de aprender com novas culturas e expandir o círculo de amizades, poder aproveitar a viagem representa, de alguma forma, o início de uma etapa, a etapa de aproveitar.
E você, já despediu dos netos? Façam todos uma boa viagem!
Por Amanda Cordeiro