
Um convite à crônica
Sérgio Porto começou sua carreira jornalística no final dos anos 40 nas revistas Sombra e Manchete e os jornais Última Hora, Tribuna da Imprensa e Diário Carioca. Foi por essa época que surgiu o personagem Stanislaw Ponte Preta e suas crônicas satíricas e críticas, uma criação inspirada no personagem Serafim Ponte Grande de Oswald de Andrade. Porto também fez publicações sobre música e escreveu shows musicais para boates, além de compor a música “Samba do Crioulo Doido” para o teatro rebolado.
Foi também o criador das Certinhas do Lalau, com vedetes de primeira grandeza, como Anilza Leoni, Diana Morel, Rose Rondelli, Maria Pompeo, Irma Alvarez e muitas outras.
Grande conhecedor de MPB e jazz, ele costumava chamá-la de MPBB – Música Popular Bem Brasileira. Era boêmio, de um admirável senso de humor e sua aparência de homem sisudo escondia um intellectual capaz de fazer piadas ferinas contra a ditadura militar, que fazem parte do FEBEAPÁ – Festival de Besteiras que Assola o País, uma de suas maiores criações.
Agora, a Companhia das Letras lança, numa nova edição, os três volumes que reúnem os hilariantes textos em que generais, capitães, deputados, prefeitos e outras figuras da cena política são pulverizados pela verve satírica do autor. Não sobra nada. Foram poucos os escritores brasileiros que tiveram coragem de “peitar” a Ditadura com tanta corrosão e petulância.
Num outro lançamento que prestigia a crônica, a Companhia traz De um Caderno Cinzento – Crônicas, aforismos e outras epifanias – de Paulo Mendes Campos.
Polivalente por excelência, Paulo Mendes Campos espraiou seus textos – crônicas, aforismos, poemas, pequenos textos de observação social – em jornais e revistas durante décadas. Todos com a impressão digital de um grande autor: a graça delicada, a prosa leve e fluente, a cultura compartilhada sem pose. Reunidos pela pesquisadora Elvia Bezerra, os 53 textos desta edição permaneceram inéditos em livro até agora. Embora possam ser classificados como crônicas, os escritos variam da forma “clássica” ao aforismo, criando um mosaico delicioso e instrutivo sobre o Brasil e os brasileiros. Completo, o conjunto é um convite à diversão e ao encantamento pela palavra escrita.
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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.