Um escritor comercial, mas limpinho

Um escritor comercial, mas limpinho

Stephen King virou quase um Romero Britto da literatura.

O fato é incontestável: só falta você abrir seu guarda-roupa, sua privada e sair lá de dentro um livro do sujeito.

Mas essa fama não é justa com o King.

Confesso que quando era jovem li, com grande prazer, vários livros dele. E aquele “It” chegou a me impressionar bastante. E não só do ponto de vista de literatura de horror, mas por alguns aspectos estilísticos também. A maneira como ele descreve tudo, o timing, a ordem dos capítulos com a intenção de turbinar o impacto no receptor.

Isto não é pouca coisa e o Romero Britto, ao que me consta, não tem esse domínio todo da “práxis” em sua “obra”.

Há ainda o capítulo cinema no cardápio do escritor. “O Iluminado” que, apesar de ser meio kibado de um conto do Guy de Maupassant, deu aquele magistral longa do Stanley Kubrick. E o que dizer de Carrie, a estranha? Misery? King é mesmo o rei do cinema.

E o fato só mais aumentar o respeito que devemos mostrar por Stephen King, um autêntico escritor comercial, mas com filigranas de esteta.

Agora a Suma de Letras está lançando o Sobre a escrita. O livro traz uma visão prática da profissão de escritor, incluindo as ferramentas básicas que todo aspirante a autor deve possuir.

Mas é também um relato pessoal; Stephen King baseia seus conselhos em memórias vívidas da infância e do início da carreira:
livros e filmes que o influenciaram; o processo criativo de transformar uma ideia em um livro; os acontecimentos que inspiraram seus primeiros sucessos; os problemas com álcool e drogas, além do trágico atropelamento que sofreu em 1999, quando quase morreu e enfrentou uma dolorosa recuperação. Pela primeira vez, um retrato da vida familiar de King.

O resultado é uma aula singular sobre o ato de escrever.

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Carlos Castelo. Escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. © 2014.