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Um mês após o assassinato de Jonh F. Kennedy, Truman tentou acabar com a CIA

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Um mês depois do dia do assassinato do presidente John F. Kennedy em Dealey Plaza, em Dallas – Texas, o ex-presidente Harry Truman recomendou que os EUA acabasse os serviços da Agência Central de Inteligência (CIA).

Em uma coluna publicada no Washington Post em 22 de dezembro de 1963, Truman não liga à CIA ao assassinato do presidente Kennedy, mas deixa explícito sua queixa subentendendo que existe uma conexão contundente no caso.

“Há algum tempo eu tenho sido perturbado pela forma como a CIA desviou de sua atribuição original”, escreveu Truman. “Tornou-se um braço de políticas operacionais e, por vezes, do Governo. Isto gerou problemas e pode ter agravado as nossas dificuldades em diversas áreas.”

Truman continuou: “Este braço de inteligência tranquila do presidente foi tão distante do que seu papel pretende que ele está sendo interpretado como um símbolo de intriga estrangeira sinistra e misteriosa – é assunto para a propaganda inimiga da guerra fria”, escreveu o ex-presidente.

Em julho de 1947, o então presidente Truman assinou a legislação que criou a agência, que substituiu o antigo Escritório dos EUA de Serviços Estratégicos (OSS).

Em 1944, William J. Donovan, criador do OSS, sugeriu ao presidente Franklin D. Roosevelt que a nação deveria criar um nova organização/agência supervisionada diretamente pelo presidente – “que iria obter inteligência tanto por métodos abertos e fechados e ao mesmo tempo fornecer orientações inteligentes, determinar os objetivos nacionais de inteligência, e correlacionar o material de inteligência coletada por todos os órgãos do governo.”

Donovan também propôs que a nova agência tivesse autoridade para conduzir “operações subversivas no exterior.”

Em dezembro de 1963, Truman articulava em termos inequívocos sobre o que ele achava das operações secretas da CIA: Truman disse que eles deveriam “ser encerrados.”

Mais tarde, em 1964, Truman reitera o seu apelo para a remoção de operações secretas da CIA em uma carta para a revista Look – ressaltando que quando ele assinou a legislação que criou a instituição, não pretendia que a CIA se envolvesse em “atividades estranhas.”

Além disso, Truman não foi o único funcionário público a pedir pela abolição das atividades operacionais da CIA. O ex- senador Daniel Patrick, democrata de Nova York, queria abolir a agência e transferir as suas funções de inteligência para se apropriar dos departamentos governamentais existentes. Por exemplo, a inteligência seria uma arma usada no âmbito do Departamento de Defesa dos EUA.

Além do mais, colocando inteligência e operações separadas nas instituições governamentais ajudaria a evitar operações secretas do governo de influenciar ou distorcer os relatórios das informações para apoiar as suas próprias metas. Esta separação aborda o problema potencial inerente ou pelo menos de conflito de interesse que ocorre quando uma instituição é o lar de ambas as funções de pesquisa e de operações.

Igualmente significativo, a função de operações secretas do Departamento de Defesa dos EUA daria ao presidente a supervisão mais direta dessas operações do que se permanecesse com a CIA. Em outras palavras, operações secretas como parte do DOD dos EUA – cujo secretário da Defesa fala regularmente com o presidente – melhoraria a sua visibilidade e prestação de contas mais frequentes da política. Também tornaria mais difícil para um grupo de desonestos/ não autorizado criar uma “operação sombra” – literalmente, uma política externa secreta não autorizada ou uma política militar.

O risco potencial da criação de operações secretas e políticas para-militares não autorizados e escondidos pelo presidente dos EUA virou centro das reclamações de Truman sobre a CIA em dezembro de 1963: a essa altura, a CIA já tinha criado inúmeras operações secretas, missões e projetos, o tipo de “atividade estranha que Truman não queria que a CIA se envolvesse”.

No mínimo, a coluna de Truman é uma expressão da sua preocupação com a CIA, que se afastaram da intenção de seus criadores. No máximo, a coluna de Truman – publicada quando a nação ainda estava atordoada de luto por causa da confusão sobre a morte de JFK e, como reverberou em suspeitas de um complô por toda a América – gerou uma das primeiras expressões de dúvida a respeito da narrativa oficial do governo de que Lee Harvey Oswald agiu sozinho e sem ajuda para assassinar o presidente Kennedy.

As dúvidas do povo americano e dos pesquisadores sobre o assassinato aumentou em 1978, quando uma segunda investigação, feita pelo seleto comitê da casa de homicídios (HSCA), concluiu que o presidente Kennedy foi assassinado, muito provavelmente, por uma conspiração. No entanto, o comitê foi incapaz de identificar os outros pistoleiros ou a extensão da conspiração.

Como observado, a queixa de Truman não é só uma acusação à CIA sobre a tragédia que ocorreu em Dealey Plaza em 22 de novembro de 1963 – um dos dias mais escuros e mais ignominiosa da história do país – um dia que mudou a trajetória política interna e externa dos EUA.

Dito isto, a comunidade de inteligência dos EUA, em geral, e especificamente da Agência Central de Inteligência, poderiam resolver muitas das questões / anomalias que formam o mistério no centro deste caso – e preencher as dezenas de lacunas deixadas pela Comissão Warren, tornando público mais de 1.100 arquivos confidenciais relacionadas com o assassinato de JFK.

No entanto, a CIA diz que não acredita que os arquivos de seus agentes sobre o assassinato de JFK seja relevante e que devem permanecer arquivados, pelo menos até 2017, e talvez mais, devido a segurança nacional dos EUA. Porém, a segurança nacional da CIA nunca foi verificada de forma independente.

Deve -se ressaltar que, até o momento, não há nenhuma arma fumegante ou provas incontestáveis ​​de uma trama ou conspiração para assassinar o presidente Kennedy, mas não há um padrão de atividade suspeita, junto com uma série de anomalias e uma comunhão de interesses entre as partes-chave, que obrigam a uma pesquisa adicional e a liberação de documentos não públicos.

No entanto, até que todos os arquivos do assassinato de JFK se tornem públicos, o padrão de atividade suspeita, anomalias e comunhão de interesses, junto com as observações dos pesquisadores e funcionários públicos – incluindo a coluna do ex-presidente Harry Truman para a eliminação de tarefas operacionais da CIA – forma uma preponderância de evidências que sugerem fortemente que o povo americano não sabe toda a verdade sobre o assassinato do presidente Kennedy, e que a Agência está escondendo alguma coisa.

 © 2014, Newsweek.

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