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Velho é a vovozinha

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Velho é a vovozinha

Sim, eu estou ficando velho. Eu assisti Chaves em TV de tubo e ouvi Rocket to Russia dos Ramones naquela vitrolinha laranja que quando a gente fechava, virava uma maleta. Se você lembrou, é porque não sou só eu que está ficando velho.

O chato de ficar velho não é só ver os objetos da sua infância ficarem obsoletos. É ver que, como eles, você também está ficando obsoleto. Outro dia, falando com um aluno meu, fui criticar a música pop moderninha e falei mal da Britney Spears. Ele respondeu que também não suporta as músicas que a tia dele ouve.

Só quem já teve uma secretária eletrônica conhece o prazer de chegar em casa e ver que tinha meia duzia de mensagens gravadas. Era mais ou menos como like no Facebook: fazia você se sentir popular pra K7. Outra coisa que a geração dos smartphones e dos tablets não sabe é a real função de uma caneta Bic: rebobinar a fita cassete quando acabava a pilha do walkman.

Quando a gente ia fazer cocô e queria que só os iniciados entendessem, era só dizer que ia passar um fax. A gíria comparava o movimento do papel saindo quentinho do aparelho com o movimento do… bem, você entendeu. Agora, que o fax é peça do museu do Ipiranga (taí outro que quase não existe mais), o que será que a geração de hoje diz quando vai fazer o número 2? Vou mandar um Whatsapp? Vou postar no Facebook? Considerando a qualidade do que costumam postar, não é de todo errado comparar a um cocô.

E pensar que, na minha infância, ter um pager era símbolo de status. O pager era um instrumento que os dinossauros usavam quando queriam se comunicar urgente com alguém que estava longe. Funcionava assim: um dinossauro ligava para uma central e falava o recado. O dinossauro atendente anotava seu recado e enviava para o aparelhinho do outro dinossauro. Alguns cientistas acreditam que o pager sumiu da face da terra depois de uma chuva de meteoros.

Você se acha moderninho porque faz selfie? Pois saiba que foi a minha geração que inventou isso. A gente pegava a Polaroid (com as duas mãos, porque era pesada), virava na nossa direção, esticava o braço e fazia a foto. Depois era só sacudir a fotografia por uns minutos até a imagem aparecer: geralmente faltando um pedaço da cabeça de um ou do braço de outro.

Naquela época, existia uma maneira de identificar rapidamente um idiota: era aquele que pagava multa na video-locadora porque não rebobinou a fita. Convenhamos, é muita burrice pagar mais porque esqueceu de fazer uma coisa tão simples. Depois de ver o filme, bastava apertar o rewind para não pagar a multa. E não demorava nada para terminar de rebobinar: era só o tempo de comer um Dip’n Lick ou tomar um Ki-suco.

Você tá achando graça e me chamando de velho? Mas lembre-se que o iPod que você tanto usou para ouvir Lady Gaga e Pitty já não é mais fabricado. Sim, ele ficou obsoleto depois ficou possível carregar nossas músicas no iPhone. Aliás: o iPhone está deixando todos os outros celular para trás, agora que vem em versão flexível.

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José Luiz Martins. Humorista, publicitário e roteirista. Sócio da empresa Pé da Letra, de criação e produção de conteúdo. © 2014.

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