
Foto: Reprodução
Por que a personagem Branca, da novela Em Família, é tão vingativa?
A psicóloga Maria Aparecida das Neves acredita que, ainda que o autor “carregue nas tintas”, a personagem tem comportamentos que de fato existem na vida real – e que são danosos para quem os alimenta.
A personagem Branca, vivida pela atriz Ângela Vieira na novela “Em família”, é obcecada por vingar-se do marido que a abandonou. Os planos que ela arquiteta podem parecer exagero ficcional, mas alguns de seus comportamentos são muito próximos do que pode ser visto na vida real. É o que garante a psicóloga Maria Aparecida das Neves. “Claro que o autor exagera, carrega nas tintas, eleva o tom para que o espectador perceba que aquela é uma personagem vingativa. Mas o que se vê na prática do consultório é que muitas pessoas realmente têm esse desejo de vingança”, esclarece.
Mas não é porque este é um comportamento que existe de fato que deva ser considerado normal. “A vingança não é saudável, não traz felicidade. Ainda mais quando vira obsessão, ideia fixa”, diz a especialista. Ela define a vingança como o desejo de punir, castigar e submeter o outro, para compensar um mal – que pode ser traição, abandono, ofensa ou qualquer tipo de desvalorização sofrida. E lembra que existe uma grande diferença entre vingança e justiça – e que esta última deve, sim, ser buscada.
“A vingança é um desvio de comportamento de quem não aceita ser contrariado, distorce a realidade e não percebe que causar um dano a quem lhe fez mal primeiro não vai trazer felicidade ou paz. Causar dano a outrem não traz satisfação”, pondera.
De acordo com a psicóloga, é normal ter o impulso de “vingar-se” quando sofremos algum mal. O problema é quando esse impulso se instala e torna-se obsessão; quando uma pessoa deixa de viver sua própria vida em função de um desejo de vingança que nunca se sacia, pois acredita que ela nunca causou dano suficiente para reparar o mal que sofreu. Nesse caso, as consequências podem ser graves e levar a pessoa que se sente injustiçada a perseguir o outro, viver em função desse desejo e até mesmo cometer delitos ou crimes.
“Quando, em um estacionamento, uma pessoa pega a vaga que outra pessoa estava aguardando, por exemplo, é normal que fiquemos irritados e bravos. Isso é próprio da natureza humana quando alguém se sente injustiçado. Mas a questão é: quais razões levaram a pessoa a ter esse comportamento? Vai adiantar ter uma discussão por conta disso?”, pergunta a especialista.
Como evitar – Maria Aparecida afirma que a chave para evitar o sentimento de vingança é colocar-se no lugar do outro, procurar entender suas razões antes de tomar alguma atitude agressiva.
Para a especialista, quando Id, Ego e Superego – as instâncias psíquicas propostas por Freud – estão em equilíbrio, conseguimos nos colocar no lugar do outro e frear esse sentimento. “Por mais raiva que alguém esteja sentindo, quando a pessoa é saudável sabe que não é um justiceiro, que não pode ultrapassar certos limites”, avalia.
Ela diz que, em casos de término de relacionamentos amorosos, um bom exercício é tentar racionalizar e perceber que a “responsabilidade” da separação não é só do outro, mas de ambos. Neste caso, reequilibrar-se é fundamental e passa por reconhecer suas próprias fraquezas, procurar ajuda profissional para se recuperar e dedicar-se a uma atividade prazerosa. “Colocar-se como vítima da situação é o pior que alguém pode fazer”, alerta a psicóloga.