Uma série de esfaqueamentos e confrontos violentos em hospitais em todo continente da China lança uma luz sobre os esforços da profissão de médico.
Um evento recente onde um médico aparentemente cometeu suicídio provocou preocupação entre os médicos que acreditam que a categoria está sendo “sobrecarregada e mal paga” e enfrenta os riscos profissionais que não existiam anteriormente.
Zhang Shilin, cirurgião urologista, trabalhava no renomado Centro de Câncer da Universidade Fudan de Xangai, e pulou do prédio logo após ter tratado a depressão em outro hospital.
Enquanto as autoridades investigam o suicídio, a especulação sobre o que levou o médico a tirar sua própria vida chamou a atenção para as pressões de ser um médico na China.
Apesar da profissão nunca ter sido considerada um trabalho fácil, o sistema médico da China, já em grande necessidade de reforma, colocou maior pressão sobre os trabalhadores do hospital – inclusive os médicos – para acomodar os pacientes descontentes que estão lutando pelo acesso e acessibilidade.
O financiamento do Hospital é imprevisível, com verbas do governo muitas vezes determinadas por fatores variados, como o número de consultas de pacientes, exames médicos realizados e medicamentos vendidos. Em alguns casos, os médicos atendem até 100 pacientes por dia.
Uma pesquisa independente lançada pelo Horizon Research Consultancy Group, em outubro passado, constatou que cerca de 81 por cento dos entrevistados disse que era difícil agendar uma consulta médica, e mais da metade declarou que essa situação está mais difícil agora do que há quatro anos.
Em termos de acessibilidade, 95 por cento dos entrevistados disse que os cuidados médicos são caros, e 87 por cento afirmou que os custos também estão mais caros hoje do que quatro anos atrás.
A crescente frustração dos pacientes sobre a acessibilidade, qualidade do atendimento e, em alguns casos, corrupção – um resultado da distribuição de fundos do governo -, criou situações de tensão nos hospitais que se tornaram cada vez mais violentos.
Os pacientes insatisfeitos manifestaram o seu descontentamento diretamente aos médicos ou outros funcionários do hospital. Em muitas momentos de estresse, alguns pacientes expõem o sentimento de raiva atacando os médicos.
Tal como aconteceu com três médicos em Xangai, os quais foram feridos a facadas por um paciente de 50 anos de idade, que passa por um tratamento de câncer. Embora a razão por trás do acontecimento ainda esteja sob investigação, não há dúvida de que a violência do hospital está em ascensão.
No final do ano passado, um homem, no leste da China, descontente com uma operação que fez, retornou ao hospital procurando pelo médico que o operou. Incapaz de encontrá-lo, o homem fatalmente esfaqueou o chefe do departamento e feriu outros dois.
Em outro caso, um homem, no nordeste da China tirou a própria vida depois de esfaquear um médico seis vezes durante uma briga que começou sobre uma complicação de sua cirurgia do braço.
Em relação ao suicídio de Zhang Shilin, os amigos do médico sugeriram que a tensão dos pacientes sobre seu trabalho pode ter sido um fator que contribuiu para a sua depressão, o que levou à sua morte.
O colega de Zhang, Song Dianwen, um especialista ortopédico do Hospital Changzheng, em Xangai, fez essa conexão em um post recente: “Eu não quero provocar conflitos entre médicos e pacientes. Espero apenas mais compreensão com as pressões de trabalho que os médicos sofrem, especialmente os cirurgiões. Eles estão sobrecarregados”, Song escreveu.
Após o depoimento de Song, vários médicos se apresentaram em mídias sociais para pedir que o público mostre maior simpatia para com os médicos sob estresse, que é resultado de um sistema de saúde mal estruturado.
“Os médicos suportam encargos de longo prazo, tanto físicos quanto psicológicos”, declarou Pan Zhanhe, um médico de urologia de Xiamen, em seu perfil. “Os médicos estão ansiosos, deprimidos e temem por sua segurança”, finalizou Pan.
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