Gosto das frutas práticas. As facinhas, que a gente pega da árvore e já sai chupando, como as jabuticabas, amoras e pitangas. Minha opinião bate com a dos passarinhos.
Também aprecio as que não complicam para descascar, dão pouco trabalho para comer: bananas, mexericas, caquis, frutas do conde, figos.
Já com as complicadas, que exigem facas, canivetes e uma dose de destreza, antipatizo um pouco: é o caso da laranja, lima, melão e abacaxi (retomo o benquerer se já vier descascada). A melancia é tão gostosa e divertida que a gente perdoa qualquer dificuldade. Na hora de descascar uma fruta, descubro que tenho 14 dedos que não se entendem.
Gosto quando as frutas respeitam sua época: uvas e cerejas em dezembro, o caqui em maio, a mexerica e o morango em julho. Embora, no caso das cítricas, há um pequeno engano: são frutas ácidas, que refrescam, deviam dar no verão para aliviar o calor, não no inverno. Mas essa é uma queixa à toa, não erguerei bandeira alguma para defender essa posição. Só não gosto, por exemplo, de encontrar uma delas fora da estação: parece ficar com uma cor pálida, sem graça, deslocada.
Existem as pretensiosas, que querem que tudo pegue seu gosto. Quem já guardou jaca na geladeira entende o que estou dizendo: a manteiga, o doce de abóbora, as verduras, tudo ganha gosto de jaca. Já outras são tão humildes, como as peras, desistem do próprio sabor, abrem mão de seu protagonismo diante de qualquer coisa mais forte.
E tem ainda as que, só pelo cheiro, já valem a pena ter na cozinha: goiabas e cajus, que tanto perfumam, capazes de nos transportar para outras copas, cozinhas e tempos.
Jamais sairia no tapa por uma maçã. Gosto dela, mas sem grandes entusiasmos. Idem com o kiwi e a lixia. Já por uma graviola, sou capaz das piores baixezas: mentira, egoísmo, rasteira, até cotovelada e dedo no olho.
Deixei para o final a rainha, para quem toda homenagem é pouca: a manga. Em todas as categorias já citadas ela me agrada: são fáceis de descascar (quando a vontade é muita, a gente até descasca com os dentes mesmo); são lindas, com aquele amarelo ouro tão brasileiro; perfumadas e versáteis – pode-se comer com garfo e faca, com a mão, lambuzando a boca, deixando ou não fiapos nos dentes. Rosa, coquinho, haden, espada, palmer, são deliciosas como sobremesa, na salada e, principalmente, fora de hora. Sem contar que as mangueiras são lindas com suas copas e sombras generosas. Jamais confiei em quem não gosta de manga, o que nunca foi um problema, pois nunca conheci alguém assim. E façam o favor de não me apresentar.
Agora, com licença, que essa prosa deu fome. Vou à cozinha comer uma banana. Banana-maçã, minha preferida. Estamos em junho, ainda não é tempo de manga, nem de uva, e já foi o tempo dos cajus.
Mas ao lado da penca vejo um queijo que um amigo trouxe de Minas. Resolvo na última hora trocar a banana por ele, e vão me desculpar essa pequena traição, depois de toda essa conversinha sobre frutas. Mas queijo, ainda mais com um cafezinho passado na hora, vamos combinar, é outro assunto precioso, que deixo para uma próxima.