– Meu filho, dava pra desligar esse joguinho um minuto?
– Não é joguinho, pai. É Minecraft X15 Megablaster.
– Seja o que for. Desliga esse troço, pelo amor de Deus.
– Mas, pai, eu só to jogando há 20 minutos.
– Já é muito tempo. Arranje coisa melhor pra fazer.
– Não tem nada melhor pra fazer.
– Como é que é? Ouve uma música. Vai estudar violão. Leia um livro. Uma revistinha que seja. Faça sua lição. Taí: você já fez sua lição?
– Já.
– Então vai brincar lá fora. Dia lindo desse. Vai ao parque, leve uma bola, junte os amigos.
– Mas a mamãe disse…
– Pois agora quem está dizendo sou eu: vai brincar lá fora.
– Mas, pai…
– Para que que eu fui gastar uma grana naquele patinete? Valeu alguma coisa? Hein, me diga. Fica ali, jogado num canto, trocado por esses… esses…
– Zumbis.
– To falando. Zumbis. Esquadrões. Terroristas. É muita violência. Bomba, tiro, sangue pra todo lado. Falando em gastar, quem te deu essa joça de jogo?
– O tio.
– Eu sabia. O tio. O legalzão. Dá o que você quer, na mesma hora, acaba como o herói bacana e eu fico com o papel de chato.
– Pai, você está sendo chato.
– Pode ser, mas enquanto você não fizer 18 anos, quem manda aqui sou eu: desliga isso.
– Só acabar esse jogo, vai. Eu não posso parar no meio.
– Acaba esse, começa outro, depois outro recomeço e, quando vai ver, lá foi o dia jogado fora. No meu tempo…
– Ah, pai, me poupe.
– Isso é jeito de falar com seu pai?! Imagina se eu falava desse jeito com o meu. Abaixa esse tom. Geração insolente. Desliga isso e é agora.
– Aí eu vou ficar pra trás, todos os meus amigos vão me passar.
– Azar deles.
– Você prometeu.
– Prometi coisa nenhuma. Quando foi que eu prometi?
– Mas, pai, bem agora que eu to chegando na fase…
Um princípio de choro. O pai suspira, derrotado:
– Tá bom, tá bom, meu filho. Você venceu. Só essa fase e acabou, hein? E se depois a gente fosse junto no Shopping, tomar um sorvete, prosear?
Não teve Shopping. A conversa foi só essa. Aliás, tanta coisa podia ter sido dita. Talvez tenha sido mais cômodo deixar o filhoeternamente no seu joguinho, hipnotizado, alheio, zumbi. Hoje, o eterno passou. Vocês se acostumaram a não dar liga, não ter assunto. Nem que fosse para perguntar com atraso: e aí, filho, você passou de fase?
Porque a outra fase, a que importava, essa passou. Passou rápido. Passou de vez. Não tem recomeço.









