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A sexta onda

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spacess

 Vencida a sexta onda, ele estacou. A revelação clareou feito raio, susto, nem era preciso pular a sétima. Do nada, pôde antever o desastre que seria o ano. Tão logo seu pé tocou de volta a água, pousado de um salto tosco sobre a onda, o futuro se evidenciou: ele, a economia, o mundo e as cartomantes que se preparassem, aí vinha um ano generoso de enroscos.

      Não foi a revelação de algo grave como desastre, aviso de despejo, desemprego ou problema de saúde. Era algo incerto, difícil de explicar, mas evidente, inexorável – e o pior: inevitável.

      Talvez tenha sido o clarão dos fogos de artifício, uma sequência em azul e vermelho que prenunciava as cores das bandeiras que iriam estragar o ano: a da Rússia, que já em fevereiro invadiria a Ucrânia; a da Bahia, da viagem adiada em junho; ou a da Croácia, que em dezembro nos desclassificaria da Copa.

     Não, ele não emagreceria os quilos prometidos; a promoção no emprego não viria; não receberia herança alguma; o Santos continuaria com um futebolzinho de entristecer; tampouco haveria o encontro esperado com a menina do sorriso torto.

     Deveria avisar a todos ali em volta, os saltitantes cheios de esperança, que faziam um papel ridículo e inútil? Que os amores, as conquistas e vinganças teriam que esperar a chegada de outro ano? Que deveriam tomar no gargalo todo o espumante que encontrassem pelo caminho – os bons, os ordinários, os raros gelados, os já intragáveis de tão quentes?

     Sem esperar pela sétima onda, deu meia volta e tornou à areia. Uma última onda (seria a sétima rejeitada?) o fez perder o equilíbrio e mergulhar na água salgada, recolhendo o máximo de areia nos bolsos da bermuda branca. Nos últimos metros, chapinhava com raiva a água do rasinho, como se quisesse dar uma bica no implacável destino a ele revelado. Sem ao menos perceber que a bermuda molhada fazia transparecer a cueca vermelha, vestida na expectativa de um ano de paixão.

     Dia seguinte, alguém comentaria a música. Ele podia jurar que não houve música.

     Pisando firme na areia, desviando de uma ou outra vela acesa e contornando os pratos com farofa e oferendas a Iemanjá, decidiu: próximo ano iria pular oito ondas. Pular com energia de menino as sete como manda a tradição, mais uma oitava de lambuja. A redentora. A milagrosa. A que ficou faltando, a esperança reposta, que enfim viria plena de sal, estrondo e espumas para nos redimir, nos perdoar e nos fazer felizes para grande espanto da história da humanidade. 

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