– É o que eu sempre digo.
– Ai, ai, ai, lá vem merda.
– Ei, que é que há? Então eu não posso dizer mais nada? Onde está a liberdade de expressão?
– É que geralmente depois de um “é o que eu sempre digo” vem uma batatada que não nada tem a ver com liberdade de expressão. É sua deixa para cravar alguma barbaridade, lacrar um preconceito, uma opinião mais a ver com crime de racismo ou homofobia.
– Ah, vá, vá. Vou dizer e pronto: as mulheres estão se achando.
– Aí. Não disse?
– E você não acha? Olha só: é mulher locutora de futebol, senadora, general, levantadora de peso, diretora, chef de cozinha, chefe na empresa…
– E daí?
– Daí que há milhões de anos quem comanda o mundo somos nós! Veja os grandes filósofos, escritores, pintores, inventores… uns 90% deles são homens.
– É justamente o espelho de um mundo antigo, onde a mulher não podia apitar, era subserviente ao homem. Séculos e séculos de dominação masculina. Isso acabou, meu caro. Agora é a vez delas.
–- E você acha que o mundo está melhor assim? Olha em volta. Toda essa zona, ninguém manda mais, todo mundo só quer saber de seus direitos, cada um faz o que bem entende. Bom era quando lugar de mulher era na cozinha, quando ela obedecia o marido, sabia o seu lugar.
– Fala baixo! Se alguém ouvir vai acabar em confusão.
– O que pode acontecer? Uma policial gostosa me algemar e levar em cana? Olha que ela pode estar querendo outra coisa…
– Assim não vai dar para conversar..
– Ah, ficou ofendidinho? Por causa de homens frouxos como você que estamos perdendo o comando.
– Por causa de homens como você há tanto rancor e ódio, olha o número de agressões à mulher, de violência doméstica, de feminicídios…
– Péra aí: você me acha capaz de bater em mulher? Ou coisa pior?
– Vai saber. Com essa cabeça…
– Pois saiba que nunca ergui a voz, muito menos a mão, para uma mulher! Trato a minha muito bem! Nunca faltou nada em casa. E sempre respeitei minha mãe, minhas irmãs….
– Então você prega uma coisa e faz outra.
– Pois eu digo que é tudo mimimi.
– O problema é justo esse: você diz. Diz com orgulho. Crente que está abafando. Quando está é sendo grosso, tosco e me constrangendo de vergonha.
– Ei, péra, senta aí: onde você vai?
– Vou pegar minha filha na Faculdade. Engenharia Química.
– Tá vendo? Pois é o que sempre digo.
– Diz, mas não devia dizer.
– Quer saber? Vá te lascar você e os direitos das mulheres. Garçom! Ei, garçom! Traz a conta. Ix, ééé… lembrei: ô amigão, será que você podia pagar essa? É que eu tô sem nada. Esqueci de pedir mufunfa pra patroa.
