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Tem alguém no controle

Picture of Cassio Zanatta

Cassio Zanatta

     Alguns chamam de anjo da guarda. Outros, de consciência, instinto ou destino. Muitos, de Deus. Fato inconteste é que alguém está no controle. Uma entidade que, diante de um telão onde passa nossa vida – sem intervalos comerciais –, decide nossos caminhos, acionando manivelas, apertando botões, corrigindo a direção.

      Quando a gente é jovem, cheio de si, acha que quem está no comando é a gente mesmo. Que é capaz de acertar o rumo, basta querer para decidir o destino. Mas aos poucos percebe que existe por trás uma engrenagem maior, complicada, ao mesmo tempo presente e invisível, que joga a gente de um lado para o outro feito um barco desgovernado, mexe no script, muda o planejado – e sem nos consultar.

     No meu caso, esse alguém deve ser um bom sujeito, mas meio atrapalhado. Posso imaginá-lo com cabelos revoltos, olhos meio impacientes e uma bata hippie. É desses que se distraem facilmente e deixam as coisas ao deus-dará. Cochilam quando deviam acionar uma manivela e, acordados de sopetão, põem os óculos pra longe em vez dos pra perto e apertam o botão vermelho quando o certo seria o azul.

     Ou é um fanfarrão, que gosta de se divertir com pequenas peças, desencontros, mal-entendidos. O que está claro é que de mesmice ele não quer saber. Nada de roteiros previsíveis, o sujeito tem adoração pelo inesperado: sua diversão são os quiprocós, seu deleite é ver o circo pegar fogo. Quem sabe, uma hora ou outra ele se arrependa da direção que tomou, feito nós mesmos, que jamais vamos entender por que aceitamos aquele emprego ou fomos capazes de namorar aquela pessoa por meses.

     Certo é que, entre os engenhos à sua disposição, ele conta com um despertador telepático. Um troço complexo, avançado, que, quando acionado, emite para nossa mente algumas ideias. De repente, plim: surge um pensamento descabido, como fazer uma viagem sem grana, mexer com o cachorro do vizinho, fazer uma piada besta com o oficial da imigração, dar uma sardinha na bunda do guarda, se engraçar com a mãe do amigo. E assim, feito autônomos teleguiados, fazemos besteira com a maior inocência do mundo.

      Ou talvez eu esteja sendo severo demais com meu controlador. Pois, na verdade, devo a ele feitos de dar orgulho: arranhar um violão até direitinho, dormir num barco sob as estrelas em pleno Pantanal, ouvir João Gilberto, ter conhecido Fernando de Noronha e morado um tempinho em Paris, ir à festa onde conheci Beatriz. Agradecido, seu moço.

     Eis que, de repente, me vem uma ideia. É minha mesma ou enviada por telepatia pelo controlador? Tenho o poder de desistir ou serei forçado por um comando qualquer? O que faço com esse pé direito que já se põe diante do esquerdo e assim por diante? Justo agora, em que tudo parecia em ordem?

     Vê lá, hein?

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