Desde o início do ano, empresas de todos os setores e países estão passando por processos de falências e crises, que assustam o mercado e quem depende de seus empregos. Americanas, Tok Stok e Tupperware estão entre as principais afetadas, sendo forçadas a interromper parte de suas cadeias em detrimento das crises financeiras.
A lista é grande. Dados da Serasa Experian mostram que, em janeiro deste ano, 92 empresas entraram com pedidos de recuperação judicial no Brasil, um crescimento de 37% na comparação com o mesmo mês de 2022. As falências também tiveram alta no período. Foram registrados 72 pedidos, número 56% maior que os de janeiro de 2022.
Embora cada caso tenha sua especificidade, especialistas apontam que fatores conjunturais ajudam a entender o boom das crises. Marcello Marin, mestre em Governanças Corporativa e CFO da Spot Finanças, empresa especializada em contabilidade e gestão financeira, acredita que a falta de governança nas empresas foi um fator importante para as c rises. “Acredito que a principal relação é a falta de uma Governança Corporativa eficiente, se analisarmos, todos essas companhias tem bons planos de GC, mas eles falharam em uma questão básica, que é o controle, ter a GC só no papel não funciona, e faz com as empresas sejam mais suscetíveis a problemas de ordem financeira principalmente”, diz.
Um cenário nebuloso: as causas das crises
A origem está atrelada aos indicadores econômicos globais, em 2020, a taxa básica de juros fechou o ano em 2%, hoje, a Selic está em 13,75%, números semelhantes também podem ser observados nos Estados Unidos e na União Europeia. Isso acontece pela ascensão da inflação, devido à pandemia e a guerra na Ucrânia, que diminuem o poder de compra da população e, por consequência, as vendas das empresas.
“O Brasil com a taxa de juros nos níveis que estão, não são atrativos para investidores estrangeiros, mas para as empresas que já estão aqui, e que em teoria deveriam ter uma operação equalizada, a taxa de juros pouco impacta, vai impactar se elas precisarem buscar dinheiro no mercado bancário, pois aí se depararam com taxas de juros extremamente altas, na maioria das vezes inviabilizando o socorro financeiro”, explica Nátaly Zamaro, CEO da Spot Finanças, com mais de 10 anos de experiência na área financeira.
O momento é para ter cuidado nas medidas econômicas para evitar uma crise com efeito dominó. “A crise nas empresas acaba gerando um problema em cadeia, se muitas empresas começam a ter problemas, teremos demissões em massa, isso impactará no poder de compra da população e cada vez mais teremos pessoas no mercado de trabalho em busca de recolocação, é algo que pode ficar enorme, os governos estão atentos a esse ponto, tentando ajudar da forma que conseguem as empresas”, mostra Nátaly.
Para as empresas que já estão passando por crises, é a hora de organizar a casa e rever os processos de governança. “Devem dar um passo atrás e entender onde o erro foi cometido, é claro que não resolverá o problema, mas será um bom início para não cometer o mesmo erro, elas devem buscar as ferramentas que forem necessárias para se reestruturar, empresas especializadas e a Recuperação judicial se esse for o caminho escolhido”, revela Marcello Marin.
Infelizmente, é difícil medir os impactos dessa crise, que pode estar só no começo, precisamos manter os olhos atentos para os indicadores, assim como o governo deve estar pronto para socorrer as empresas, como aconteceu com o Credit Suisse. “Esse cenário não tem um tempo para melhorar, na verdade pode estar apenas começando, com a continuidade da estagnação econômica, alta da inflação e diminuição de compra da população, poderemos ter um novo boom de empresas buscando por recuperação judicial”, finaliza Nátaly Zamaro.