Se enjoos e vômitos estiverem intensos, instala-se um quadro de hiperêmese gravídica, havendo perda de peso e desidratação
Em 15 de agosto é celebrado o Dia Nacional da Gestante, uma data dedicada aos cuidados com a gestação e com as diversas transformações que ocorrem no corpo da mulher.
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), praticamente 100% das gestantes apresentam de 2 a 3 sintomas em algum momento da gravidez, como sonolência, náuseas, vômitos, inchaço, pequenos corrimentos e sangramentos, entre outros.
Segundo Carlos Moraes, ginecologista e obstetra pela Santa Casa/SP, membro da FEBRASGO e especialista em Perinatologia pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Albert Einstein; as alterações hormonais e fisiológicas, necessárias para o desenvolvimento do bebê, causam desconfortos no organismo da mulher, podendo ser transitórios e típicos de cada fase da gestação.
“No entanto, estes sintomas deixam de ser considerados comuns quando se tornam intensos, constantes e comprometem a saúde do bebê e da futura mãe, demandando avaliação médica urgente”, alerta Carlos Moraes.
Abaixo, o médico cita alguns exemplos que não podem ser negligenciados:
– Náuseas e vômitos em excesso
Segundo a FEBRASGO, cerca de 70 a 80% das gestantes apresentam náuseas ou a associação de náuseas e vômitos matinais, principalmente no primeiro trimestre de gravidez. “Isso é um sinal de que o corpo está produzindo altos níveis de hormônios, essenciais para a manutenção da gestação”.
Mas, se os enjoos e vômitos estiverem intensos e incontroláveis, instala-se um quadro de hiperêmese gravídica, que acomete até 2% das gestações. Nesta condição, há perda de peso (mais de 5% do peso corporal pré-gestacional), desidratação e desequilíbrios hidroeletrolíticos e metabólicos.
“Como a grávida não consegue se alimentar e nem ingerir líquidos, sua saúde fica comprometida, e o bebê, que depende dos nutrientes da mãe, não se desenvolve. Daí a necessidade de internação hospitalar, cujo tratamento consiste na administração intravenosa de líquidos antieméticos, se necessário, bem como de vitaminas e reposição de eletrólitos”, explica Carlos Moraes.
– Corrimento anormal
Ter corrimento vaginal na gravidez não indica, necessariamente, uma possível doença ou infecção. Até porque é comum a gestante apresentar um leve corrimento fisiológico. Neste caso, ele costuma ser claro, de pequeno volume, sem cheiro e coceira.
Entretanto, se o corrimento vier em grande quantidade, tiver uma coloração amarelada, esverdeada ou acinzentada, provocar coceira, cheiro forte, dor ou queimação ao urinar, pode ser sinal de vaginose ou até algum tipo de infecção sexualmente transmissível. “São condições perigosas na gravidez e que requerem tratamento medicamentoso”.
– Sangramentos atípicos
No início da gestação, é comum ter pequenas perdas de sangue pela vagina, sem outros sintomas associados. Isso pode ser, inclusive, sinal de nidação, quando há fixação do óvulo fecundado na parede do útero.
Porém, algumas características do sangramento vaginal podem indicar complicações, como volume e persistência; presença de coágulos; sangue com dor abdominal ou pélvica; sangue com contrações uterinas frequentes e intensas; sangue com queda da pressão arterial, e nas mulheres que já tiveram aborto espontâneo.
Segundo Carlos Moraes, no começo da gestação, os sangramentos acompanhados de cólica podem significar abortamento ou gravidez ectópica. Já no final da gravidez, podem indicar possível parto prematuro, placenta prévia, descolamento prematuro da placenta ou ruptura uterina.
“Vale alertar que mesmo sem as características citadas, qualquer sangramento deve ser reportado ao seu médico. Ainda que pareça inofensivo, não significa que ele não possa oferecer riscos à gravidez”, frisa o ginecologista obstetra.
– Vista embaçada e pressão alta
A pré-eclâmpsia pode surgir na segunda metade da gestação, normalmente, após 20 semanas de gravidez. Segundo dados de um recente estudo americano publicado no periódico UpToDate, a pré-eclâmpsia ocorre em 5% a 10% das gestações, sendo que 75% dos casos são leves e 25% são graves.
Hipertensão arterial após a 20ª semana de gestação; visão embaçada ou dupla; dor abdominal e de cabeça; e perda de proteínas (notada no aumento de espumação da urina) são alguns dos indícios de pré-eclâmpsia.
– Dor ao urinar
De acordo com uma pesquisa do American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG), a cistite acomete cerca de 2% das mulheres grávidas, e está associada a um maior risco de infecção dos rins (pielonefrite) da mãe, além de nascimento prematuro, baixo peso do feto e aumento da mortalidade perinatal.
“Qualquer tipo de incômodo na região genital que surja ao urinar (dor, ardência, queimação, pontadas) deve ser comunicado ao obstetra”, orienta Carlos Moraes.
– Inchaço nas pernas
A maioria das gestantes desenvolve algum grau de edema nas pernas no 3º trimestre de gravidez, devido à retenção de líquidos, que é bastante comum no período. No entanto, edemas nos membros inferiores requerem uma atenção importante, em especial, o chamado “edema assimétrico”, quando uma perna começa a inchar mais do que a outra.
“Isso porque a gravidez aumenta o risco de trombose venosa profunda (TVP), e um edema assimétrico pode ser o primeiro sinal de que uma veia da perna está sendo obstruída por um trombo (coágulo). A trombose dos membros inferiores é um quadro perigoso, já que ela é o principal fator de risco para a embolia pulmonar“, revela o especialista.
Além do inchaço assimétrico, outros sinais de TVP do membro inferior são a vermelhidão local, dor, aumento da temperatura da perna acometida e um inchaço “endurecido” ao redor da área trombosada.
“Vale reforçar a importância de seguir à risca o pré-natal, tirar todas as dúvidas e coletar o máximo de informações possíveis. Desta forma, você conseguirá identificar precocemente uma possível alteração e buscar ajuda médica com mais agilidade, garantindo maior segurança para você e seu bebê”, finaliza Carlos Moraes.